Brasília – Especialistas em política externa divergem quanto ao futuro do Mercosul e quanto à ênfase que o governo brasileiro deve dar ao projeto de integração regional. A aproximação econômica, social, política e cultural entre os países sul-americano foi prioridade do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve continuar na pauta do dia nos próximos quatro anos.

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Questionado, durante o processo eleitoral, sobre os desafios para os próximos quatro anos, o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio-Ambiente e secretário-geral da Unctad – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento até 2005, destacou que o Brasil deve dar maior ênfase à solução de controvérsias e desequilíbrios no Mercosul.

?Vejo uma transformação muito grande do Mercosul que, a meu ver, está cada vez menos próximo de um acordo comercial e cada vez mais próximo de uma espécie de movimento político?, disse Ricupero em entrevista exclusiva à Agência Brasil.

?Acho que a prioridade tem que ser a solução dos problemas comerciais que existem dentro do bloco, tanto os problemas que têm afetado o intercâmbio entre Brasil e Argentina quanto as queixas recentes do Uruguai e do Paraguai, o desejo manifesto destes países de ter um tipo de liberdade de ação para acordos com os Estados Unidos?, opinou.

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Na avaliação do professor Eduardo Viola, do departamento de relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o Mercosul está em ?crise profunda? e o descontentamento do Uruguai e do Paraguai é um dos fatores desta crise ? pelas regras do bloco, os dois países teriam que sair do Mercosul para estabelecer acordos comerciais com os Estados Unidos.

Outro motivo de crise, segundo ele, são os caminhos diferentes adotados por Brasil e Argentina nas relações com outros parceiros comerciais.

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?O Brasil seguiu um curso econômico de integração crescente na economia global, e a Argentina seguiu uma tendência neo-protecionista. É uma contradição importante que leva a Argentina, permanentemente, a procurar exceções às regras do Mercosul?, explicou.

O professor também mencionou o conflito entre Argentina e Uruguai devido à construção de duas fábricas de papel na margem uruguaia do Rio que divide os dois países. ?É um conflito que está muito politizado e ideologizado pelo governo argentino. E a posição do Brasil tem sido manter-se distante, apesar da expectativa Uruguai de uma atitude mais ativa do Brasil na mediação da disputa?, ressaltou.

Também ouvido pela Agência Brasil na cobertura das eleições 2006, o professor Mário Ferreira Presser, coordenador do curso de Diplomacia Econômica da Unicamp, destacou o papel que a Venezuela poderá exercer na consolidação de um projeto de integração ?O projeto de integração agora depende muito do que os presidentes do Mercosul vão conseguir que Hugo Chavez faça. Ele tem recursos econômicos importantes nesse momento?, ressaltou.

?Tem que ver se irá aplicá-los num plano da infra-estrutura de médio e longo prazo na América Latina ou se irá fazer um super exército. Se ele se dispuser a aplicar os seus excedentes num projeto de integração regional, o horizonte torna-se excepcional?.

o economista Theotonio dos Santos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretor da Universidade das Nações Unidas para a Economia Global e o Desenvolvimento Sustentável, já havia falado à Agência Brasil a respeito desse projeto de integração.

?A relação com nossos vizinhos é muito boa nesse momento, há muita convergência política e de interesses pela integração. Os pontos de divergência são plenamente superáveis, desde que haja uma política geral de desenvolvimento e crescimento da região?, avaliou.