O Vaticano e o mundo viram o poder do cardeal Joseph Ratzinger crescer a cada
ano no papado de João Paulo II. Por trás da aparência calma, está um defensor
enérgico dos dogmas mais conservadores da Igreja Católica. Seu nome aparece em
todas as polêmicas recentes, como a condenação do casamento entre homossexuais,
a crítica ao feminismo e a negação de outras religiões. É o homem do "não",
define o jornal italiano Corriere della Serra. A dimensão dada às suas idéias
nos últimos anos havia transformado o alemão Ratzinger, de 78 anos, em um dos
favoritos para substituir o papa João Paulo II.
"A bondade implica também
na capacidade de dizer não", diz ele. O cardeal foi o principal perseguidor dos
colegas progressistas do movimento Teologia da Libertação, surgido na América
Latina nos anos 60. Eram cristãos de esquerda que defendiam, entre outras
coisas, a reforma agrária. Ratzinger os considerou muito próximos do marxismo e
puniu rigorosamente muitos religiosos, como o brasileiro Leonardo Boff – seu
ex-aluno de teologia -, impedido de falar e escrever sobre o
assunto.
Nascido em Marktl, na Baviera, em 16 de abril de 1927, numa
família de agricultores, chegou a lutar por alguns meses na Segunda Guerra
Mundial. Foi ordenado sacerdote em 1951 e chegou a Roma em 1962 como consultor
teológico de um cardeal no Concílio Vaticano II. Em 1977, tornou-se cardeal de
Munique.
Contra o show
Atualmente, Ratzinger ocupava o cargo de
prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, órgão sucessor da Inquisição. Sua
função é a de "defender os pontos da tradição cristã que parecem estar em perigo
por causa das novas e inaceitáveis doutrinas." Entre elas estaria "a
criatividade de alguns sacerdotes" de transformar a missa em um show. "Quanta
hipocrisia há na Igreja, quanta soberba, quanta auto-suficiência",
afirmou.
Seus textos, aprovados pelo papa, causaram polêmica ao definir o
homossexualidade como uma "desordem objetiva" e considerar um "ato gravemente
imoral" votar a favor do casamento gay. Em 2003, conclamou ainda todos os
parlamentares católicos do mundo a não defender a união civil homossexual. na
época, países europeus e estados americanos passaram a aprovar leis nesse
sentido.
Ratzinger também afirmou, em 2000, no documento intitulado
Senhor Jesus, que outras religiões cristãs não eram verdadeiras igrejas.
Anglicanos, luteranos e outros protestantes, que tentavam um diálogo ecumênico
com Roma há anos, ficaram chocados. Ratzinger chamou seus protestos de
"absurdos".
Mulheres
Em 2004, outro documento denunciava o "feminismo
radical" como uma ideologia que subestima a família e esconde as diferenças
naturais entre homens e mulheres. Também discorda, como fazia João Paulo II, da
ordenação de mulheres na Igreja. Nos anos 80, condenou o comunismo. "Uma
vergonha do nosso tempo. O regime comunista chegou ao poder em nome da
libertação do homem", afirmou. Ratzinger ainda considera o rock "um contraculto,
oposto ao culto cristão".