Rainha, sob investigação, marcha como militante

Apesar de ser quase um mito entre os sem-terra por causa de uma atuação recheada de conflitos na luta pela reforma agrária, o líder José Rainha Júnior, de 44 anos, participa da Marcha Nacional pela Reforma Agrária como um militante comum. Ele não figura entre os coordenadores da caravana, nem ocupa posto de destaque na delegação de São Paulo, que ajudou a arregimentar.

Rainha está sob investigação, pela comissão mista parlamentar de Inquérito que apura a questão fundiária no País – a CMPI da Terra – por suspeita de desvio de recursos da reforma agrária. Este ano teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pela comissão. Ele não fala sobre o assunto. Pelas regras da marcha, onde só coordenadores falam com a imprensa, não pode dar entrevistas. Foi apurado que, em 1999, Rainha tomou em seu nome um empréstimo de cerca de R$ 270 mil destinado à Cocamp, a cooperativa dos assentamentos do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, da qual era diretor. Ouvido pela CMPI, explicou que o fez porque, à época, a cooperativa estava com o crédito bloqueado.

Um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o líder também se desgastou ao ser preso, em 2002, com uma espingarda calibre 12. Quando voltou a ser preso, no ano seguinte, com sua mulher Diolinda, em conseqüência da invasão da fazenda de Jovelino Mineiro, na época sócio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, desencadeou uma onda de solidariedade dentro do MST e no PT. Chegou a receber uma mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem se diz amigo.

Com mais de uma centena de ocupações no currículo – fez as primeiras invasões na Bahia e no Espírito Santo na década de 80 -, várias ameaças de morte (chegou a ser baleado no Pontal), dezenas de processos, inclusive uma acusação de homicídio da qual foi absolvido, Rainha tornou-se uma figura mítica no MST. No acampamento, é saudado pelos sem-terra que conheceu em 20 anos de militância. Os grupos do Nordeste o tratam como ídolo. Mas não estará entre os interlocutores do movimento com o governo, em Brasília. Rainha marcha com o filho, João Paulo, de 12 anos, que está sendo preparado para ser líder. O garoto participa de atividades com outras 130 crianças que estão na caravana.

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