Teodoro Sampaio, SP – O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) José Rainha Júnior, de 45 anos, afirmou hoje, em Teodoro Sampaio, no interior de São Paulo que a entidade deve entrar na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. O apoio, segundo Rainha Júnior implica em ir para as ruas e combater a oposição, que ameaça com o "retrocesso" da volta ao poder.
"O movimento tem de fazer luta porque a luta não atrapalha o presidente. O lugar da luta é a praça, a rua, o lugar onde o povo se encontra. A mudança vem de baixo para cima, com a luta diária", disse.
Luta, para ele, são as ocupações, marchas e protestos. Se ocorrem saques, como ontem (17), em Pernambuco, é preciso analisar o contexto, de acordo com Rainha Júnior. "O saque é justificado quando o trabalhador está passando fome."
O líder do MST, que ontem comandou a invasão de dez fazendas no Pontal do Paranapanema, oeste do Estado, falou hoje como militante do movimento. Rainha Júnior foi proibido pelos líderes nacionais de expressar-se em nome do MST.
"Acho que o MST deve ter uma posição. Para ser coerente, deve apoiar o governo democrático de Lula e fazer oposição à direita, que é o Alckmin (Geraldo Alckmin, pré-candidato a presidente), ligado ao PFL e ao PMDB."
O líder afirmou que está "em campanha" pela reeleição de Lula, embora não seja filiado ao PT, ao contrário de outros dirigentes do movimento. "Só para citar alguns, o João Pedro Stédile e o João Paulo Rodrigues (coordenadores nacionais) são filiados ao PT, e o Jaime Amorim (também da coordenação nacional) foi candidato do partido a deputado estadual em Santa Catarina."
Rainha Júnior lembrou que a crise no partido, envolvido em denúncias de corrupção, gerou divergências dentro do MST. Muitos líderes se afastaram da legenda. "Eu tenho a minha opinião. Vou estar com o PT e votar no Lula. Devo lealdade ao presidente, ao José Dirceu (ex-deputado do PT de São Paulo) e ao José Genoino (ex-presidente nacional da sigla) porque tiveram a coragem de estar comigo nos piores momentos."
Dirceu, Genoino e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que não foi citado, visitaram o líder quando ele esteve preso, no Pontal. Rainha Júnior se diz perseguido pela Justiça por causa da luta pela terra.
"O MST está em 23 Estados e só em três, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, eu não ajudei a fundar ou consolidar." Em todos os outros, Rainha Júnior participou de invasões e estratégias de luta.
Por isso, respondeu e ainda responde a mais de 40 processos e foi preso quatro vezes. Está em liberdade provisória de uma condenação a dez anos de prisão, graças a liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
"Ninguém do MST foi mais preso do que eu. Nenhum integrante de movimento social no Brasil foi mais perseguido pela Justiça, mas não sou criminoso. Ocupar a terra é questionar a situação fundiária absurda do País, que causa vergonha no exterior."
Segundo o líder, o mesmo Judiciário que dá a reintegração de posse em 24 horas para o fazendeiro leva dez anos para colocar o sem-terra na detenção das áreas devolutas. Rainha Júnior criticou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) por não se entenderem sobre a reforma agrária.
"Tem 127 mil hectares de terras já vistoriadas no Pontal mas, se o Itesp aprova a compra, o Incra discorda, e os anos vão passando." Rainha Júnior evitou falar sobre as divergências que o tiraram de postos de líder do MST.
Assume, no entanto, a liderança no Pontal: dos 13 acampamentos, dez estão com ele, apesar do boicote do outro grupo, que controla a Cooperativa de Comercialização e Prestação de Serviços dos Assentados de Reforma Agrária do Pontal (Cocamp)
A situação chegou a um ponto em que militantes dos dois grupos ocuparam a Fazenda São Camilo, que está em processo de desapropriação, e quase se enfrentaram. Rainha Júnior, que é assentado em Mirante do Paranapanema (SP), não admite sair do MST. "Se isso um dia acontecer, deixo a militância e volto a mexer com a terra só no meu lote."