O racismo não é tolerado no Brasil. Os racistas, freqüentemente sim. Eles existem entre nós, em número maior do que costumamos admitir. E porque são tolerados, muitas vezes cometem a discriminação, que neste País é crime.
No noticiário, vemos constantemente fatos que apontam racismo de policiais contra cidadãos de raça negra. É negro, é suspeito, imaginam alguns ignorantes racistas. A criminalidade viceja mais entre os excluídos da sociedade, exatamente porque excluídos. E os negros, em sua maioria, estão nas camadas mais baixas da sociedade, no aguardo de um resgate que lhes é devido desde a abolição da escravatura. Apenas hoje se tenta algo para compensá-los, como a discriminação positiva em concursos públicos e outros processos seletivos. Por isso, imaginam alguns policiais, e não só eles, mas muitos membros da pretensa elite branca, que quem é negro é suspeito.
Assim, agridem moralmente cidadãos brasileiros de raça negra, cometendo o crime de racismo. Esse preconceito é tão arraigado que se tem notícias até de policiais negros levantando suspeitas contra civis negros, unicamente por sua cor. O noticiário relata esses lamentáveis fatos com freqüência.
Há poucos dias, este jornal publicou matéria sob o título “Soldado denuncia racismo entre PMs”. Foi uma denúncia, ou melhor, um desabafo do soldado negro Ivan Luís Camargo dos Santos, que estava promovendo uma passeata de protesto em Curitiba, para chamar a atenção da população sobre o racismo de que teria sido vítima por duas vezes, discriminado na Polícia Militar do Estado. Uma vez em 1988, de parte de um comandante, e em 200l, por um capitão. Nos dois casos, o soldado entrou com ações judiciais buscando os seus direitos e a punição dos que acusa. Ele não acusa a Polícia Militar de ser racista e, sim, de ter em seu meio racistas. E racistas que teriam sido capazes de prejudicá-lo por sua condição racial. O soldado argumenta que, desde que ingressou com as ações na Justiça, estaria sendo alvo de perseguições na corporação.
O chefe de Comunicação Social da PM, comandante David Antônio Pancotti, lembra que a instituição tem 147 anos de existência, e durante todo esse tempo sempre tentou evitar qualquer situação de tratamento inadequado dentro da corporação. Adiantou que a corporação tem um curso de direitos humanos, do qual participam seus oficiais. Confessou desconhecer o caso do soldado Ivan Luís Camargo dos Santos. De fato, a nossa Polícia Militar tem 147 anos de bons serviços prestados à coletividade. Nasceu antes da abolição da escravatura, o que torna improvável, se não impossível, que tenha escapado da mancha da discriminação racial, pelo menos em tempos idos. O fato de ignorar os dois processos movidos pelo soldado negro é no mínimo inconveniente, pois eles interessam à imagem da Polícia Militar. Como dissemos antes, a PM não discrimina em razão de raça. Mas, como em toda a sociedade brasileira, é muito provável que tenha um ou outro racista.
O curso de direitos humanos que mantém é útil. Mas seria interessante que a corporação, no caso do soldado Ivan ou outros que possam acontecer, agisse de pronto em defesa do discriminado e para punição dos discriminadores, independentemente de providências judiciais. Negar pelo atacado, declarar que ignora os fatos e nenhuma providência tomar quando o pretenso discriminado se diz ainda perseguido, é querer tapar o sol com uma peneira.