Questão de fé pública

A política tem peculiaridades, não raras vezes surpreendentes até mesmo para aqueles que a ela se dedicaram em obediência à vocação cívica de prestar serviços à comunidade, ao desempenhar com a acurácia dos bons – e eles existem – os mandatos populares obtidos nas urnas. Na verdade, os que não enveredaram pelo atalho condenável de fazer política para a satisfação dos mais baixos instintos – e eles também existem – por vias indiretas acabam sendo servidos de bandeja no antropofágico repasto imaginado pelo notável Oswald de Andrade.

No acabrunhante picadeiro em que evoluem algumas personalidades marcadas pelo estilo paroquiano de viver o processo político, ocorre por esses dias a encenação de um esquete prenhe de falas malpronunciadas e destituídas de senso, autênticos aleijões morais impingidos a uma platéia cuja maioria não dispõe dos elementos para discernir entre a verdade e a mistificação, entre a maledicência e a semeadura da cizânia.

Os eleitores são merecedores de tratamento diferenciado, sobretudo porque são eles que fornecem o consentimento jurídico exigido pela legislação à diplomação que habilita os eleitos ao exercício dos mandatos. Só por isso não é aceitável e, muito menos, legítimo, serem rebaixados à condição de inocentes úteis dispostos a deglutir as barbaridades elucubradas pelo estamento político que pressente o barro afundando sob os pés.

Não pensem os autoproclamados autores da política de senzala, enfiada goela abaixo de homens e mulheres já saturados pelas ilações originárias de arremedos de coligações partidárias, que tudo será processado como ditames da moralidade e do iluminismo. Ao contrário.

Homens íntegros dedicados à vida pública por vocação, não é demais repetir, estão sendo literalmente devorados por ?companheiros? a quem serviram de amparo em momentos de angústia e insegurança, mas que por conveniências imediatistas viram-se alijados como material descartável. Contudo, a sociedade entende que esses são os políticos ainda merecedores da fé pública retirada dos carreiristas que rasgaram todos os compromissos assumidos com a população.

Aos poucos, de tanto serem sovados pelos predadores de plantão, os eleitores acabam aprendendo a se defender das arapucas típicas dos períodos eleitorais, quase todas baseadas na contra-informação, essa forma sofisticada de mentir sem perder a pose.

Essa campanha, ainda no início, vai servir como divisor de águas e soldar no imaginário popular a crença de que nem tudo que reluz é ouro…

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