Questão de Estado

Nenhum analista do mercado mundial de petróleo ficará surpreso quando a cotação do barril da commodity alcançar a casa dos US$ 150. Aliás, a verdade é que todo mundo está se preparando da melhor maneira possível para a chegada do evento, que trará para as economias menos resistentes crises dessa envergadura, um misto de espanto e impotência.

Segundo alguns analistas, a cotação saltaria às alturas caso a economia norte-americana tenha uma ligeira recuperação, ou haja algum conflito localizado em países produtores do óleo. Uma observação judiciosa feita pelo economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), lembrou um pormenor que necessariamente precisa ser levado em conta, tendo em vista que quase todas as reservas atuais de petróleo estão localizadas em países instáveis do ponto de vista político e institucional.

O exemplo referido por Adriano Pires é a Nigéria, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e responsável pela produção diária de 2,5 milhões de barris. A indústria petrolífera nigeriana tem sido marcada, nos últimos anos, por recorrentes conflitos sindicais que acabam afetando, mais ou menos, todo o sistema mundial de produção e exportação.

Além disso, as análises das agências mais renomadas do Ocidente citam como ingredientes obrigatórios desse alarmante cenário, a inexistência de novos campos de produção e a dificuldade admitida pela Opep em aumentar a extração. Tal combinação tem contribuído em grande medida para a elevação contínua dos preços do barril do chamado ouro negro, sem que se possa fazer nada em sentido contrário. A charada se completa com a irresistível atração que as cotações em alta e a depreciação da moeda norte-americana passaram a exercer sobre os fundos de investimento que perderam muito dinheiro com a crise do mercado de imóveis nos Estados Unidos.

Outro desdobramento esperado desta história foi o crescimento da procura de equipamentos para sondagem e perfuração em zonas até então relegadas pelas grandes companhias petrolíferas do mundo. A contrapartida imediata foi a explosão dos custos de aluguel dos equipamentos, cujas diárias podem chegar em alguns casos até a US$ 600 mil e a fila de espera se estender por até três anos, conforme a previsão dos analistas.

Em função do estouro das cotações internacionais do petróleo, a Petrobras recebeu autorização do governo federal para aumentar em 15% o preço do litro do diesel e em 10% a gasolina, nas refinarias. Esta foi a primeira vez em três anos que o governo viu-se obrigado a reajustar os preços dos combustíveis, embora os reflexos da alta não tenham ainda chegado aos postos de abastecimento, por causa da compensação oferecida pelo governo mediante o corte de parte da alíquota da Contribuição Social sobre Domínio Econômico (Cide).

A princípio se salvaram não se sabe por quanto tempo, as empresas de transporte que não estão pagando mais pelo combustível. Contudo, o panorama não é igual para o setor da indústria petroquímica, que desde abril se depara com o maior preço por tonelada (R$ 1,48) da nafta petroquímica, sua principal matéria-prima. Operadores do setor estão preocupados com a elevação dos preços da nafta, 28% em reais em 2007 e mais 3% nos primeiro trimestre de 2008.

Puxado pelas dificuldades momentâneas e futuras do mercado de petróleo, cresceu o debate em torno de fontes alternativas para a recomposição da matriz energética da maioria dos países. Não é por acaso que o etanol tornou-se assunto predominante nas discussões técnicas e estratégicas, trazendo à baila o controvertido tema da elevação dos preços dos alimentos pela redução da área plantada e a reanimação do fantasma inflacionário. Equação que requer o trato competente de verdadeiros estadistas.

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