Maravilhosa a campanha da Justiça Eleitoral que objetiva alertar o eleitor na escolha dos candidatos e as duras penas para o descuido. Pelo que conheço da alma do nosso povo, duvido um pouco da sua eficácia.
Aquele que vota, salvo raras exceções, é movido por razões e fenômenos não regidos pela lógica racional. Os influxos afetivos, místicos e coletivos acabam se impondo no momento da escolha. No primeiro caso ninguém deixaria de votar em alguém da família ou próximo, compadre, mesmo no cantor que entoa algumas canções de sua predileção (ou por pedidos destes).
No segundo, igualmente, o padre, pastor, o amigo de crença ou a benzedeira. No terceiro, o eleitor deixará de votar no candidato apoiado por seu clube recreativo, associação (dos polacos, negros, amarelos,etc), sindicatos, escolas ou da torcida organizada de determinado time?
A Associação dos Magistrados quando se lançou na luta pelo impedimento dos “fichas-sujas”, tentou inverter essa prática consuetudiária, de origem imemorial, da escolha pelo agrado e não pelo perfil do candidato. Nesta ótica, podem mil juízes em coro dizerem que determinado candidato não é bom que ele, com discursos que integrarão o anedotário nacional, facilmente será eleito!
Nosso modelo democrático, como qualquer outro, reflete a vontade popular! A campanha supõe corretamente que fraude, dolo, simulação, coação e erro figuram como elementos que viciam atos jurídicos em geral. Votar, um ato humano como qualquer outro, estará sujeito aos mesmos problemas… Porém, ao sistema determinar a mistura e o nivelamento de “joio e trigo” nos minguados horários eleitorais, onde o candidato, por bom ou ruim que seja, por bem ou mal intencionado que esteja, pode, em 15 segundos, validamente se apresentar e passar alguma mensagem aproveitável para o perfeito julgamento do eleitor?
As autoridades responsáveis pelos processos eleitorais, continuam minimizando fatores capazes de viciar impunemente quaisquer pleitos, que são os eleitores corruptos, corrompidos e seus mercenários intermediários. Misteriosamente intacto o relevantíssimo tema das condutas daqueles que vendem seus votos em troca de valores, favores ou dos que aceitam tais propostas, em meio a nossos folclóricos mercadores denominados “cabos eleitorais”, que leiloam seus apoios e garantem aos candidatos que angariam um número x de votos. Curiosamente, tais imoralidades sempre restam impunes quando mais perniciosas que as condutas dos políticos “compradores”.
Como deduzido pelo sistema reinante, o eleitor brasileiro parece realmente com aquela mulher “louca das pernas” retratada na campanha. Precisamos, desesperadamente, enfrentar e resolver quinhentos e tantos anos de problemas acumulados. Gostemos ou não, “quem vota no feio, bonito lhe parece…” Não é de perder o sono?
Elias Mattar Assad é presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas.
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