Quem ganhou?

Quando há coleta de opiniões do público, após os debates dos candidatos na televisão, quase sempre vencem os que já eram favoritos nas pesquisas, a menos que seja desastrosa a participação do candidato preferido. A Globo realizou o último debate público entre os principais candidatos à Presidência da República e logo surgem as opiniões sobre quem venceu. Seria Lula, Serra, Ciro ou Garotinho?

Cada um confirmou o discurso feito durante a campanha, se bem que com mais civilidade. Ataques pessoais inexistiram. Discussão de problemas nacionais, idéias e programas aconteceram, porém sempre de forma superficial. Espremendo bem o que disseram, se der suco, será do mesmo sabor, pois não diferiram muito em suas análises e menos ainda em suas propostas. Houve, como na campanha, mais a intenção de apontar culpados, uma refrega mais ou menos aguçada entre os candidatos de oposição e Serra, apontado como representante do governo. Mais do que isso, como sendo o próprio governo, a despeito de ontem, antes e quase sempre ter discordado, aqui e ali, da administração FHC, à qual serviu e da qual recebe discreto apoio.

Discreto, em comparação com eleições passadas, quando era comum o uso abusivo e descarado da máquina governamental em favor do candidato situacionista. Desta vez, reconheçamos, Fernando Henrique Cardoso comportou-se de forma irrepreensível. Não misturou, pelo menos de forma visível, campanha e governo.

No debate não houve vencedores, como aliás acontece em todos que se dão na televisão. Por mais organizados que sejam, ou por serem rigorosamente organizados, os debatedores vêem-se numa verdadeira camisa-de-força. O tempo para cada um é limitado e sempre curto. O sistema é de perguntas e respostas, réplicas e tréplicas, com sorteios para determinar qual o perguntador e quem deve responder. Em geral o que o candidato que recebe a palavra está é desejoso de fazer sua pregação e, quando pergunta, se tiver a sorte de ter como perguntado sorteado aquele com quem deseja debater, indaga de forma a obrigá-lo a mostrar, perante o público, despreparo, incoerências, se possível ignorância. A escolha lotérica muitas vezes leva um candidato a perguntar para quem não lhe interessa e sobre o que não prefere e este, a responder para quem preferia que não lhe tivesse feito a pergunta. E não poucos usam o curto espaço de tempo que lhes concedem menos para perguntar ou responder do que para dizer algo sobre si mesmos, discursando para o eleitorado.

Temos de admitir que poucas opções melhores se oferecem aos organizadores dos debates que um confronto hermético, burocrático e insosso. O máximo que se pode dizer do último debate dos presidenciáveis é que Garotinho repetiu algumas provocações, como já vinha fazendo na campanha, com a verborragia de radialista que tem, e chegou a montar uma pegadinha contra Lula, indagando sobre uma sigla que o candidato petista mostrou desconhecer. Serra, provocado, chegou a engrossar com Garotinho. Ciro continuou com sua linguagem empolada de toda a campanha. Serra mostrou-se, diante das circunstâncias, um debatedor competente. E Lula foi o Lula da campanha. Nenhum ataque virulento, discurso ao gosto popular, evitando aprofundamentos que levassem o público e ele próprio a terrenos menos conhecidos. Ninguém ganhou o debate. Nem o público.

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