Quem apaga a luz?

Sob o comando de José Genoino, um militante político que conserva grande parte da ortodoxia que abraçava quando guerrilheiro e homem de extrema-esquerda, o PT poderá se transformar em mais um dos partidos nanicos existentes no Brasil. A afirmação parece absurda e talvez o seja, considerando-se que o PT é agora detentor da Presidência da República com algumas alianças de agremiações afins e outras que estão a fim é de partilhar os benefícios que o poder oferece. Um partido que chega ao governo depois de 24 anos de lutas, conduzido por um líder sindical de origem humilde, com história de fidelidade às causas populares, normalmente se assentaria no poder para ficar pelo menos algumas décadas. Tanto mais porque é um partido com efetiva representatividade, hoje com o presidente, vários governadores, centenas de prefeitos municipais e milhares de vereadores.

É preciso que o PT de Genoino, que tem o apoio do próprio Lula e outros influentes próceres do partido, defina o que considera fidelidade partidária para que não aconteça ter de expulsar deputados e senadores e acabar na prática se extinguindo. Faltará quem apague a luz na hora de abandonar o barco do poder.

Quando da votação da reforma da Previdência e da reforma fiscal, já em contradição com a maioria das bandeiras que sempre pregou, o PT acabou chocando-se com um núcleo pequeno, mas rumoroso, de membros ortodoxos. Genoino, no comando do diretório nacional do partido, levou-o a fechar questão em torno de diversos pontos polêmicos, dentre eles a taxação dos inativos na reforma da Previdência.

Alguns parlamentares petistas não se dobraram à imposição partidária, alegando, e com razão, que não estavam sendo obrigados a obedecer teses programáticas ou ideológicas. Pelo contrário, estavam sendo obrigados a votar contra toda a história de lutas do PT. Por isso, foram contra o governo Lula nessas questões e o resultado foi a expulsão de todos eles, deputados federais e até de uma senadora de nome, como Heloísa Helena. O grupo esforça-se atualmente para formar um novo partido de esquerda que retome as teses petistas abandonadas pela agremiação, quando assumiu o governo.

Agora, o problema se repetiu na votação do novo salário mínimo. Deputados e senadores petistas, além de outros de partidos aliados, votaram contra a proposta governamental de um mínimo de R$ 260,00, optando por valor maior. Novamente agiram de acordo com a história de lutas do PT por uma remuneração mínima para os trabalhadores de valor mais expressivo. E de acordo com as promessas de campanha. Difícil falar em infidelidade partidária. Desta vez, não foram poucos. Nada menos de nove deputados do PT não seguiram a orientação partidária e votaram contra a posição do governo. Mais três deputados petistas se abstiveram de votar, completando doze insurretos. No Senado, Paulo Paim, Flávio Arns e Serys Slhessarenko votaram contra a orientação partidária.

O presidente do partido, José Genoino, volta a falar em punições e, como os insurretos desta vez cometeram pecados semelhantes àqueles dos já expulsos, para ser coerente, o PT teria também de expulsá-los. Alimentaria, assim, a formação do novo partido de Heloísa Helena. E reduziria a bancada petista no Congresso a um número minoritário de representantes. Se não o fizer, estará instalando o condenável sistema oportunista de dois pesos e duas medidas.

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