Na bela igreja consagrada a Nossa Senhora da Piedade, em Belo Oriente, Leste mineiro, durante a rotineira pregação dominical, padre Luís, inspirado e imolado pela tradição originária do catolicismo, definiu: “O cristianismo é o fermento do povo…”. O Brasil é basicamente um país cristão, católico, em toda sua extensão, divisando com o protestantismo o legado religioso brasileiro. As lutas populares organizadas têm quase sempre seus alicerces na igreja, que no interior do Brasil vêm buscando uma forma nova de pedir, lutar e alcançar os seus objetivos.

O presidente Lula sabe muito bem disso, pois em sua caminhada à presidência trilhou os caminhos católicos da CNBB e do protestantismo liberal. Hoje, talvez Lula esteja distante desse “fermento” cristão, que alimenta os sonhos do povo e o faz arregaçar as mangas e seguir na luta pelos seus ideais. Está faltando ao Lula fermentar junto com o povo os seus antigos desejos de um mundo mais justo, mais igualitário, para a comunhão dos ensinamentos cristãos.

Ao lado de Lula, o germe desse fermento se faz presente, tendo a figura teológica e libertária de frei Betto e Leonardo Boff, duas personalidades que emergiram da ala progressista católica, homens que tiveram os ensinamentos cristãos entranhados em suas vidas. Está faltando a eles chegar ao presidente, buscar a conciliação das promessas de campanha, com o governo atual, exercer o conselho espiritual que durante anos foi exercido pela igreja junto às dinastias reais.

Agora, neste primeiro momento, é hora de as lideranças espirituais e ideológicas estarem norteando o governo Lula, para que ele se volte à luz que o fez chegar à presidência, à realidade do Brasil, cheia de desemprego, fome, miséria e desilusão. Está faltando ao presidente se juntar à massa brasileira, de onde ele emergiu e se comprometeu a mudar a nossa realidade, que vem há anos sendo servil às exigências internacionais e omissa aos interesses nacionais.

As lideranças religiosas têm essa missão junto ao governo Lula, porque elas apontaram ao povo, com sua força mobilizadora e missionária da fé, a acreditar naquele que veio do meio do povo, no que era igual. Foi com entusiasmo – Deus dentro de cada um – que o brasileiro deu o seu voto ao Lula, acreditando em uma nova forma de governo para o Brasil, voltado para os anseios de 170 milhões de cristãos que sempre acreditaram na força do líder, do missionário. Lula precisa comungar com os seus velhos sonhos, seus ideais mais verdadeiros, porque nele o povo acreditou e depositou sua fé, sua esperança, sua verdade.

Esse mesmo povo não pode agora estar à espera de um milagre, de uma luz divina que toque o coração e a consciência do presidente Lula. Ele tem que, por meio de sua mobilização, cobrar, reivindicar, fazer com que o presidente cumpra com as suas promessas de campanha, pois foi ela a grande vencedora nas últimas eleições e, Lula, com os olhos marejados, disse em todos os canais de tevê que a “esperança havia vencido o medo”.

Os brasileiros não podem ter medo de cobrar do presidente que ele nos dê alforria, nos liberte, do jugo internacional que atravanca o nosso desenvolvimento, o crescimento do país mais rico do mundo. Ele tem que ter esperança de, com sua força, mudar o rumo entreguista do novo governo, fermentando idéias de amor à pátria, da soberania nacional e realização do sonho que até antes das eleições o presidente Lula fomentou.

Assim, como o fermento é que faz a massa crescer, os sonhos libertários cristãos irão guiar os brasileiros pelos caminhos tortuosos da independência, da autodeterminação, que só acabará quando nos tornarmos um povo livre e “o gigante deitado em berço esplêndido” despertará para sempre do sono aprisionador, derrotando o medo para ser feliz.

Petrônio Souza Gonçalves é escritor e jornalista. E-mail:

petros@brfree.com.br
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