Queda em preços agrícolas faz IPG-10 recuar 0,65% em abril

Rio – A queda generalizada de preços no setor agrícola, acompanhada de taxas negativas e desacelerações nos preços dos combustíveis no atacado, levou à deflação de 0,65% no Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) de abril. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, os itens agrícolas tiveram deflação de 3 89% no IGP-10 de abril, ante queda de 1,44% no indicador de março, no atacado.

Segundo o economista, há uma "combinação de fatores, setoriais e conjunturais" que está derrubando os preços dos produtos agrícolas no atacado. Entre eles, está o começo da safra de vários produtos importantes, que tem contribuído para aumentar a oferta dos itens e, com isso, reduzir os preços no mercado interno. Além disso, a valorização do real ante o dólar tem puxado para baixo os preços de várias commodities agrícolas de peso na formação do atacado.

"A soja e o milho, por exemplo, estão sofrendo a influência desses dois fatores", disse Quadros, acrescentando que esses dois produtos estão registrando quedas respectivas de 6,61% e de 10,69% no atacado, no âmbito do IGP-10 de abril. Também há a influência da gripe aviária, que fechou vários mercados no exterior às exportações de carne brasileira. As vendas externas de frango acabaram sendo escoadas no mercado interno, elevando a oferta e puxando para baixo o preço. "Para se ter uma idéia, o preço das aves abatidas frigorificadas já caiu 15,04% no IGP-10 de abril, sendo que a queda desse produto era de 3,64% em março" disse.

Outro fator que também ajudou a formar a deflação no IGP-10 foi o comportamento dos combustíveis, que subiram apenas 0,10% no atacado – sendo que esse tipo de produto estava com alta de 1 63% no indicador de março. Entre os destaques estão a desaceleração no preço do álcool etílico hidratado (de 7,72% para 3,06%) e a queda no preço de óleos combustíveis (de 2,57% para -4,33%), de março para abril.

Taxa acumulada

O IGP-10 registrou em abril a menor taxa acumulada em 12 meses da história dos IGPs calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo Quadros, a taxa acumulada do IGP-10 de abril, de -0,78%, ficou abaixo da taxa acumulada em 12 meses até março do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que foi de -0,29%. O IGP-DI é o mais antigo indicador da FGV, criado em meados da década de 40. "Vocês se lembram que, na divulgação do IGP-DI de março, eu mencionei que tinha sido a primeira vez que um IGP registrava taxa negativa no resultado acumulado em 12 meses. Como o IGP-10 teve uma queda mais intensa na taxa acumulada, agora ele registra a menor taxa em 12 meses (em um IGP)", explicou Quadros.

O economista comentou que o resultado combina com o cenário favorável de inflação que está sendo mensurados pelos IGPs, em abril. Ele lembrou o bom comportamento dos preços agrícolas, principalmente commodities, que tem grande peso na formação da inflação do atacado. O segmento de matérias-primas brutas, composto principalmente por commodities, teve queda de 4% no IGP-10 de abril – sendo essa a taxa mais negativa da história do indicador, criado em 1993. Ele comentou que é "muito provável" que o fechamento do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de abril, que será anunciado em 27 de abril, também registre taxa acumulada negativa no resultado em 12 meses.

Projeções

O próximo resultado do IGP-10, que será referente a maio, pode continuar a registrar taxa negativa, mas a queda não deve ser tão intensa quanto à registrada em abril. Segundo Quadros, os fatores que estão contribuindo para a formação de taxas negativas nos IGPs devem continuar em maio. Como é o caso do começo de safra de importantes produtos agrícolas que devem continuar a elevar a oferta desse tipo de produto, derrubando os preços no mercado interno.

Além disso, a influência benéfica da gripe aviária, que há semanas tem puxado para baixo os preços das carnes, está longe de acabar, na avaliação de Quadros. As notícias sobre a doença no mundo levaram ao escoamento de exportações de frango brasileiras no mercado interno, reduzindo os preços do produto. "Creio que nós vamos ter muito mais pressão de baixa do que de alta (no próximo IGP-10)", disse.

"Mas uma queda de 0,65% é um número respeitável. Não é provável que você tenha um número dessa ordem de novo", opinou. Ao ser questionado sobre a influência da deflação nos IGPs na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de continuar a reduzir ou não a taxa básica de juros (Selic), novamente o economista foi cauteloso em sua avaliação. Ele reiterou que o cenário mensurados pelos IGPs é de curto prazo, enquanto que o Copom visualiza um horizonte mais longo na inflação. Mas concordou que é uma boa notícia a ser mencionada na reunião do Copom.

Ele não quis fazer previsões para um possível corte da Selic. Porém, observou que "o corte de 0,75 ponto porcentual – caso haja um corte – tornou-se um número básico", visto que houve um espaçamento maior entre uma reunião e outra do conselho.

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