Rio – A austeridade fiscal como compromisso de longo prazo é fundamental para redução dos juros e o crescimento da economia, asseguraram hoje (2) economistas como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco e Márcio Garcia, da PUC-Rio. Malan disse que será preciso tempo para entender os motivos da queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, mas defendeu ajustes na política monetária quando necessários, com a garantia de metas de inflação de longo prazo. O ex-ministro, que participou de seminário no Rio, disse que apenas um compromisso de austeridade fiscal de longo prazo a ser estabelecido pelo governo vai garantir a redução mais rápida das taxas de juros nominais e reais. Ele evitou apontar os motivos da queda do PIB. "Tem de aprofundar um pouco a discussão e saber se é uma tendência. É preciso tempo", afirmou.
Malan concentrou as sugestões na questão fiscal e disse que "as quedas nas taxas de juros nominais e reais podem ser menos gradualistas se o governo colocar, com apoio do Congresso, a idéia do compromisso fiscal necessário para os anos à frente". Para ele, o número do superávit primário não é tão relevante, mas sim o horizonte no tempo desse superávit e que "isso seja visto como crível".
Malan sublinhou que "é exatamente nesses momentos de incerteza, como os gerados pelo PIB (do terceiro trimestre), que é importante reafirmar esse compromisso". Sobre a política monetária e metas de inflação, comentou que é a favor de metas estabelecidas em período de tempo superior a 12 meses, e citou como exemplo o prazo de 18 meses. "O governo não precisa se sentir obrigado, a não ser no caso de um choque externo, a manter uma política extremamente restritiva para atingir a meta naquele ano."
O ex-ministro participou, no seminário, de um painel sobre as perspectivas de ações populistas na gestão da política econômica da América Latina. Ele alertou sobre os perigos de "milagres ou pirotecnias" na totalidade da região e sublinhou que os países latino-americanos devem se lembrar das histórias de fracasso nesse tipo de iniciativa. Nos momentos em que se referiu ao Brasil, não demonstrou preocupação e chegou a citar os compromissos estabelecidos publicamente pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que não haverá nenhuma mudança brusca na política econômica.
Garcia e Franco alertaram para o perigo, segundo eles, de que a queda do PIB eleve as vozes dos que defendem gastos maiores do governo. Para Franco, os dados da atividade vão inevitavelmente acirrar o debate em torno da política monetária, o que considera "bom e saudável por um lado", mas perigoso ao "acionar os populistas de plantão, que esperam que os juros no Brasil sejam reduzidos com uma canetada".
Ele também citou Palocci e disse que "compartilha a visão" do ministro da necessidade de manutenção da atual política fiscal. Garcia alertou que o momento é para corte de gastos e não para o relaxamento fiscal em nome do crescimento da economia. "O perigo é que a queda do PIB leve (o governo) para o lado do aumento dos gastos", afirmou.