Queda de juros pode afetar carteira de fundos, alerta BC

Brasília (AE) – O Tesouro Nacional vem alertando os dirigentes dos fundos de pensão de todo o País para a necessidade de avaliar o momento de substituir os investimentos em títulos atrelados à taxa Selic por papéis corrigidos por índices de preços, como o IPCA e IGP-M. Com o início do processo da queda de juros pelo Banco Central (BC), os papéis vinculados à Selic começam a perder rentabilidade e, no longo prazo, podem trazer prejuízos à carteira de investimentos dos fundos.

Com apoio da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), representantes do Tesouro estão viajando às principais capitais brasileiras para alertar os fundos sobre o problema. Já foram realizadas reuniões em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Os próximos encontros serão em Salvador e numa capital da região Sul, que ainda não foi escolhida.

Simulações feitas pela área técnica do Tesouro, e que vêm sendo apresentadas aos fundos, indicam que o melhor momento para a migração teve início quando os juros começaram a cair, em setembro. A partir do terceiro mês, começará a ser observada uma queda da rentabilidade, caso os fundos não tenham feito a substituição. Os 366 fundos de pensão brasileiros têm aproximadamente R$ 150 bilhões aplicados em títulos públicos. Desse total, cerca de 35% são em Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), os títulos que têm correção atrelada à variação da Selic. "Estou preocupado com o ritmo lento dessa migração", afirmou hoje (3) o secretário-adjunto do Tesouro Nacional José Antônio Gragnani. "A participação em LFTs ainda é muito elevada."

A maioria dos fundos de pensão se comprometeu com seus participantes a garantir aos investimentos a inflação (normalmente pelo IGP-M, INPC ou IPCA) e uma rentabilidade adicional (com freqüência, 6% ao ano). Pelo fato de há muito tempo a Selic estar em um nível alto, garantindo não só a inflação, mas uma taxa de juros real que no pico chegou a superar os 14% ao ano – mais do que o dobro do compromisso mínimo dos fundos -, as instituições investem muito nesses atraentes papéis. Mas agora, com a trajetória de queda na Selic, na avaliação do Tesouro, os fundos precisam tomar cuidado para não ficarem, no longo prazo, com uma rentabilidade inferior à mínima prometida aos seus participantes, já que não se sabe até onde o juro básico poderá recuar no Brasil nos próximos anos.

"Até o momento, a aplicação em LFTs foi extremamente vantajosa para os investidores, mas, com o movimento de queda dos juros que vem sendo feito pelo BC, em pouco tempo notaremos a perda do glamour desses papéis em detrimento dos papéis corrigidos por índices de preços e dos prefixados", observou Gragnani. O secretário destacou que as taxas de juros dos títulos atrelados a índices de preços ainda estão bastante altas garantindo uma boa rentabilidade para os compradores desses papéis. Mas, com o processo de queda da Selic, os juros pagos pelo Tesouro tendem a ficar cada vez menores, reduzindo o ganho real dos aplicadores.

Comprando agora os papéis atrelados à índices de preços, os fundos não correm o risco de mais à frente terem que adquirir os papéis com preços menos vantajosos, que possam comprometer os compromissos futuros. "Nas nossas simulações, utilizamos as expectativas de mercado. O intuito não é convencer os fundos de que as nossas premissas estão corretas, mas sim fazer com que o mercado, de acordo com as suas próprias premissas, monte cenários de rentabilidade e avalie o momento oportuno de migração, com o objetivo de preservar a rentabilidade dos seus investimentos", disse Gragnani.

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