Queda da Selic não provocará desvalorização do real, sustenta Ibre

São Paulo – A carta do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) de janeiro, publicada na revista Conjuntura Econômica da Fundação Getúlio Vargas (FGV), joga um balde de água fria nos argumentos dos exportadores de que a redução das taxas de juros provocará a uma desvalorização do real, levando a moeda a um "nível ideal". O Ibre já havia se posicionado na defesa do modelo de política cambial e vem sustentando que é "no mínimo incerta" a visão de que o câmbio está sobrevalorizado e que uma forte correção é questão de tempo.

Para muitos economistas, segundo o documento do Ibre, a explicação óbvia para o impacto dos juros altos na taxa de câmbio é de que os recursos de hot money aplicados nos juros brasileiros são os responsáveis pela tão "indesejada" valorização do câmbio. Mas o contra-argumento inicial dessa explicação é de que as contas internas nacionais não indicam que esteja ocorrendo a "tal avalanche de capitais ariscos para o Brasil." Na verdade, afirma o Ibre, a absorção de fluxos de curto prazo pelo País desde 1999 é cerca de dez vezes inferior ao período 1995-1998, tomando-se como parâmetro o PIB dos EUA.

Há, inegavelmente, as pressões decorrentes da balança comercial, essa sim provável responsável pela avalanche de dólares que provoca a valorização do real. Dessa forma, continua a carta, "ao contrário do que os mercadores da esperança no governo e na iniciativa privada vêm alardeando, a queda da Selic real não significa automaticamente que a taxa de câmbio se desvalorizará e voltará ao patamar de R$ 2,50, R$ 2,70 ou R$ 3 00."

Apesar desses argumentos, os economistas do Ibre admitem que o câmbio não ficará imune ao relaxamento monetário. Por exemplo, a alta taxa de juros reais é um incentivo para que os exportadores antecipem ao máximo suas receitas por meio dos contratos de Antecipações de Contratos de Câmbio (ACCs). Se a Selic cair, é possível que o prazo médio das ACCs também se reduza. Um outro efeito da redução da Selic é a reativação da economia, que poderá impulsionar as importações e reduzir o saldo comercial.

"Este desdobramento, diga-se de passagem, é altamente desejável e benfazejo", defende o Ibre. "O Brasil não precisa de superávits comerciais acima de US$ 40 bilhões por um longo período. Uma redução gradual do superávit em conta corrente, com aumento das importações, não fará nenhum mal ao Brasil."

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo