Faz anos que acompanhamos as “mães dinás” da economia nos dizendo o que vai acontecer no ano seguinte. Aliás, a característica “vidente” está por todo o lado no Brasil. Mas quem tem o ofício de ajudar as empresas sempre tem a missão de vislumbrar as expectativas para o novo ano, que será um ano difícil, mas de esperanças renovadas, o que, aliás, é a primeira profissão do brasileiro.
Não se esperam bruscas variações no câmbio, até porque o ano de 2003 mostrou claramente o ponto de equilíbrio dessa moeda. Quanto aos juros, bem, esses terão, até por compromisso “de palanque” do presidente, uma trajetória descendente, embora não se possa dizer exatamente qual será a rampa de descida. Assim, se não houver nenhuma grande desgraça no cenário internacional, se espera um ano de recuperação da economia e parece que 2004 se anuncia alvissareiro.
Mas o que interessa: o Brasil está “engatilhado” para um processo de exportação jamais visto. Do ponto de vista tributário, exportar pode significar uma redução da carga tributária de proporções nunca vistas. O mesmo tributo que sufoca e encarece a venda interna transforma a venda externa num manancial de coisas boas – câmbio justo (ou quase), nenhuma tributação na saída de produtos, agora que o PIS e a Cofins não têm mais “cascata”, e pára quando o produto é exportado, dando a possibilidade de crédito desses tributos, gerando saldo para abater de tributos “exclusivamente nacionais” como o IR e a Contribuição Social. Sem que percebamos, mais do que em qualquer outro período da história, exportar é bom e econômico. Além do mais, é um “hedge” natural para empresas que importam ou têm dívidas em moeda forte.
Pode-se entender, então, que estão dadas as condições que podem garantir ao Brasil uma posição de gerador líquido de divisas. Se houver, por parte do empresariado, a vitalidade necessária – principalmente em setores não tradicionais na exportação – poderemos ter um ano de superávit acima dos US$ 30 bilhões. Isso daria ao país a tranqüilidade necessária para atravessar os anos de grandes pagamentos de dívidas – saídas líquidas de divisas – que sempre geram um processo de especulação, com a finalidade de ganhos fáceis de curto prazo. Isso, aliado à continuidade de uma política de restrição de gastos públicos, poderá evitar os abalos sísmicos que vivemos nos anos de 1998 e 2001, principalmente.
Já é hora de pararmos de viver de política de desenvolvimento aos soluços, entrando numa fase de crescimento mais sustentado. Para isso, só falta o governo dar um empurrãozinho e reduzir os tributos mais penalizantes (CPMF, entre outros), o que faria, ao contrário do que se pensa, que a arrecadação aumentasse. Portanto, que venha 2004!
Wesley Montechiari Figueira é diretor-presidente da ValuConcept Consultoria e Avaliações (wesley@valuconcept.com.br).