Parodiando Ciro Gomes, poder-se-ia responder “que se danem os candidatos”. Mas a democracia pressupõe, antes de qualquer coisa, eleições e eleições não podem acontecer sem candidatos. Dessa forma, temos que agüentar os candidatos, mesmo aqueles que de dia dizem uma coisa e de noite outra, complicando nossa cabeça e confundindo nossa economia, parte dela assentada sobre os humores do mercado financeiro que insistem em subir mesmo e apesar do megaacordo com o Fundo Monetário Internacional.
Devido aos mercados e principalmente à posição de alguns candidatos com relação a esses mercados, estamos na mesma encruzilhada de antes do esforço inaudito do governo para controlar o barco: dólar nas alturas, risco Brasil crescendo, incertezas, prejuízos e, acima de tudo, esse nervosismo que ameaça corroer tudo o que de bom foi plantado até aqui durante os oito anos do Plano Real. Quem assim analisa o nosso jogo são jornais influentes de diferentes cidades. Eles atribuem a crise à dubiedade com que os favoritos das urnas encaram os mercados financeiros, os contratos existentes e os acordos celebrados.
Diz um velho brocardo latino: pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos). Mas a política romana provavelmente era diferente da atual. Acordos podem também não ter significado algum para terceiros não envolvidos, mas as conseqüências – como vemos – neste caso em que está em jogo a credibilidade da nação e dos brasileiros são inevitáveis e elas já costumam a se antecipar ao próprio pleito. De fato, com mensagens tão claras assim, não conseguimos imaginar quem teria dito a Ciro Gomes, por exemplo, que para subir pontos nas pesquisas ele deveria desprezar acordos… ou mandar os mercados à danação.
Vejamos o que ele e os demais candidatos haverão de dizer na próxima segunda-feira, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso fizer – como anuncia – um apelo à “responsabilidade patriótica” dos presidenciáveis. Até aqui tergiversaram, se esquivaram, alguns até ridicularizaram o convite para a conversa. Mas está claro que se trata de importante oportunidade para demonstrarem se são capazes de raciocinar como estadistas, comandantes cheios de poder de um país tão grande e tão vário quanto o Brasil. Se assim não reagirem, que se danem os candidatos. Ainda há tempo de arranjar outros. Ou danemo-nos nós.
Se na democracia, como nos ensina Fernando Henrique Cardoso neste fim de governo, só há um jogo – o da franqueza -, devemos perguntar o que se esconde atrás de incertezas tão inquietantes ou de propostas tão mirabolantes quanto inconsistentes de alguns candidatos sobre assuntos importantes como a Previdência, dívidas e contratos. No caso da primeira, sabe-se que foram forças políticas que estão em jogo hoje que, num passado recente, desafiaram (e derrotaram) a proposta do governo de fazer uma reforma completa e funda como todos esperavam. Não há crise maior nem pior que aquela detonada pela mentira. Mesmo que depois, no poder, venham a honrar os compromissos até aqui assumidos porque – está visto – não lhes restará outra opção, o estrago já estará feito. E haverão de ter que atravessar a borrasca por eles próprios causada. Não, entretanto, sem sacrifício de todos os brasileiros e brasileiras.