Lula fala em 10 milhões de empregos. Serra promete 8 milhões. Os dois candidatos que aparecem nos primeiros lugares nas pesquisas debatem o assunto, cada um procurando mostrar que sua proposta é mais conseqüente, sólida, factível. E ambos buscam, ao colocar o dedo na dolorosa ferida do desemprego, ganhar o emprego de presidente da República, um cargo sumamente honroso, mas malpago e, no fundo, um imenso abacaxi que a população chega a duvidar seja qualquer deles capaz de descascar.

Lula adverte que seu número, 10 milhões de empregos, é uma meta e não uma promessa. Acredita que é esse o número de vagas que é preciso criar para dar trabalho aos brasileiros desempregados. As estatísticas não são precisas. Há muitos estatísticos desempregados, muitos trabalhadores sem trabalho e muitos outros subempregados, na informalidade ou na marginalidade. E milhões de jovens que, todos os anos, procuram adentrar o mercado e não conseguem nenhuma chance.

Para agravar o problema, temos um contingente incontável de trabalhadores que trabalham, mas não ganham. Recebem uma esmola de até menos do que o ínfimo salário mínimo, que está em R$ 200,00 mensais, quando o Dieese Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, com base na Constituição Federal e na definição legal desse mínimo, calcula que deveria ser de R$ 1.168,92. Acrescentemos os membros das famílias de menor renda, que o aumento do custo de vida leva a entrar na fila dos desempregados, como as donas de casa, que sentem necessidade de complementar o orçamento doméstico porque o salário dos maridos tornou-se insuficiente. E ainda os filhos e filhas que estudam, mas faltando o pão na mesa, o remédio é sair procurando trabalho.

Afinal de contas, o debate é válido e ninguém se esquece que os desempregados, que são milhões, também votam.

Acreditamos que tanto Lula, quanto Serra e mesmo Ciro e Garotinho, pensam seriamente no problema desemprego. Mas todos colocam o assunto, perante o eleitorado, como se tivessem uma varinha mágica capaz de solucionar o problema. Que o futuro governo, seja quem for o novo presidente, vai criar milhões de empregos. Oito, dez ou até mais.

A verdade é que o governo não cria empregos. Alguns o fazem via empreguismo, mas a situação que hoje se apresenta, no Brasil, é de folhas de pagamento de servidores estourando os limites legais. No geral, há funcionários públicos demais, seja na administração direta ou na indireta, embora uma ou outra repartição esteja carente. Mas sobram funcionários em outras. Nas estatais e autarquias o quadro é mais ou menos o mesmo, embora mais enxuto.

O que o governo pode fazer é induzir a criação de empregos estimulando com políticas fiscais adequadas, incentivos e financiamentos determinados setores da economia que, se tiverem adequados índices de desenvolvimento, ofertarão empregos.

Há setores que demandam maior quantidade de mão-de-obra. Outros, menor. A natureza desses setores, sua tecnificação e competitividade é que ditam a quantidade de mão-de-obra que reclamam.

Muito embora seja relevante o papel do governo na geração de empregos, a verdade é que ela depende mais da iniciativa privada que do poder público. Se este ajuda ou pelo menos não atrapalha, o caminho para solucionar o problema está aberto. A geração de empregos não independe da vontade do governo, mas o agravamento do desemprego pode resultar de sua incompetência ou má-vontade.

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