Seis milhões, novecentos e sete mil, trezentos e vinte e sete. Este o número exato de eleitores paranaenses que hoje, como de resto todo o Brasil, são convocados às urnas para eleger prefeitos e vereadores em 399 municípios. Muitos serão motivados pela paixão, outros pela convicção. Outros, pela esperança e pela fé. Fé na possibilidade de mudanças, ou no desejo de continuação. Alguns votam por obrigação. A amizade ou parentesco também conta. Votar, para cada eleitor, pode ter um significado diferente, além da escolha de quem fará o próximo governo local.
Exceto em Curitiba, Londrina, Maringá e em Ponta Grossa – onde a disputa majoritária deverá ser definida num segundo turno – as demais comunidades decidem tudo neste domingo. Quem perdeu, que se conforme. Ou espere o próximo embate.
Dos colégios eleitorais, Curitiba é o maior, com mais de um milhão de eleitores (exatamente 1.179.223, segundo o Tribunal Regional Eleitoral, divididos em 3.230 seções). Na capital dos paranaenses, além dos candidatos a prefeito, 572 aspirantes a vereador, muitos deles completamente desconhecidos, outros figurinhas já carimbadas, disputam as trinta e oito cadeiras da Câmara Municipal – três a mais que as vagas atuais. Nove desses candidatos podem ganhar, mas não levar, por falta de confirmação da Justiça, pois estavam com a situação sub judice até sexta-feira à tarde por motivos diversos.
Todos os 35 cidadãos que exercem a vereança atualmente disputam a reeleição. Isto confirma que o cargo, além de disputadíssimo, é de bom aceite: garante um rendimento bruto mensal que beira os sete mil reais, além de outros penduricalhos e alguma influência política aqui e acolá. Os vereadores modernos, legisladores do interesse local e nem sempre fiscalizadores do Executivo, também chamados de edis, bebem na história romana a razão de sua existência. Mas na velha Roma cuidavam apenas dos edifícios e assemelhados. Hoje, na versão portuguesa que herdamos como modelo, se metem em quase tudo. Até onde não devem.
Isso tem preço. Dos contribuintes municipais de Curitiba, a vereança cívica abocanha mais de quarenta milhões de reais anuais. O que significa dizer que cada edil em serviço custa mais de um milhão e cem mil reais por ano. É o preço de um dos itens de nossa democracia representativa. Claro, nem tudo é tão caro quanto aqui. Há vereadores em municípios menores que custam quase nada; em outros, proporcionalmente, custam até mais. Fique esclarecido que neste custo global per capita estão servidores quase vitalícios de carreira, assessores, veículos, luzes e holofotes. Se a Câmara Municipal de Curitiba tem cerca de 600 funcionários, significa dizer que cada vereador é rodeado dos cuidados de, pelo menos, 17 pessoas, entre funcionários de carreira e assessores contratados.
Com segundo turno ou não, é certo que a campanha que culmina com a votação de hoje não deu a devida atenção para a parte mais próxima do eleitor – exatamente o vereador. Na televisão ou no palanque, o discurso foi centrado nos candidatos a prefeito, seu preparo, experiência e suas conexões, deixando aqueles a vereador em segundo plano, como se fossem menos importantes. Entretanto, eles pesam tanto que podem cassar a qualquer tempo, e sem a participação do eleitor, o mandato dos prefeitos. Por isso, é necessário que, se ainda der tempo, o eleitor reflita outra vez antes de apertar o botão “confirma” nos teclados eleitorais deste domingo. Como diz o ditado, em qualquer lugar, um vereador vale quanto pesa. A vereança bem exercida, aliás, vale mais do que quanto pesa no orçamento sempre pendurado no bolso do contribuinte.
É uma pena que as eleições municipais deste 2004 tenham assumido um caráter quase plebiscitário em torno das realizações ou não-realizações do governo federal. Este primeiro degrau da política que praticamos é decisivo para a qualidade de todos os demais degraus.
