Quando vivemos a nossa vida real?

Realidade e ilusão nunca estiveram tão misturadas. Vivemos cada vez mais em função do desejo por dinheiro, sucesso e beleza. Ocorre que, diante da ambigüidade desse desejo, ficamos freqüentemente confusos. O dinheiro traz conforto material, mas também a prepotência; o sucesso faz bem ao ego, porém nos torna excessivamente vaidosos; e a beleza, apesar de melhorar nossa auto-estima, faz com que mergulhemos no mar das futilidades visuais.

Nada obstante, penso ser a verdadeira utopia humana conseguir ter a chamada paz de espírito, em outras palavras, ter a calma e a segurança de que tanto necessitamos para enfrentarmos nossos dias. Mas, diante da nossa total inépcia, metemo-nos nesse constante estado de busca, ansiando a conquista de dinheiro, sucesso e beleza. Assim, sofremos quando não temos o êxito esperado e, surpreendentemente, também nos desencantamos quando atingimos nossas metas. Sim, porque passada a euforia da conquista vem sempre o tédio da posse. Então, não vemos outra alternativa senão a de iniciar uma nova empreitada.

Aliás, não é mera coincidência o fato das ilusões serem a maior fonte de renda que existe, pois é preciso entreter as bilhões de pessoas entediadas. E, por conta disso, trabalha-se, diverte-se, aliena-se, vicia-se, para que todos se mantenham ocupados a ponto de não terem tempo de pensar em como realmente querem viver, e, principalmente, de perceber o quão iludidos estão. Vai-se de um lado para outro sem saber exatamente por que nem para quê.

E qual a razão de cedermos tão facilmente aos apelos das ilusões? Muito simples: para fugir do tempo presente. A consciência do tempo presente nos faz sentir que estamos realmente vivos, o que é assustador porque, apesar de todo dinheiro, sucesso e beleza que possamos ter, somos todos perecíveis ao tempo. Assim, mantendo o pensamento preso às possibilidades não realizadas do passado ou com os devaneios do futuro, desviamos o foco dessa fatídica e inexorável realidade.

E nesse transe coletivo vivemos nossa vida. São raros os momentos onde conseguimos realmente viver o tempo presente, unindo em comunhão corpo e mente. O normal é não haver essa coincidência, já que a mente, sempre insaciável, vive no mundo virtual da imaginação e dos pensamentos, e é incrivelmente suscetível às ilusões.

Saber divisar a realidade da ilusão se torna cada vez mais um grande desafio porque já estamos condicionados a viver no mundo das ilusões.

Então, não me resta outra alternativa senão repetir a pergunta colocada lá no título: afinal, quando vivemos a nossa vida real? E como não tenho a resposta, emendo outra: seria essa a grande limitação da condição humana?

Djalma Filho é advogado – djalma-filho@brturbo.com.br

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