Os profissionais da área de saúde que me perdoem, mas é importante comentar esse assunto. Outro dia o Sinduscon anunciou, numa coletiva aos jornalistas de Curitiba, que houve um aumento mais do que expressivo no número de clínicas construídas na capital no último ano, enquanto que o fechamento de hospitais aconteceu de modo inverso nesse mesmo período, mesmo que não na mesma proporção.
Fiquei imaginando se isso significa um quadro de investimento, onde os profissionais colocam seus principais recursos para adquirir independência ou se o setor está tendo excelentes faturamentos. Não devemos generalizar um julgamento contra os profissionais da saúde. Só lembro que muitas pessoas se influenciam por constantes notícias que são divulgadas pela imprensa sobre modismos e “milagrosos” tratamentos de “saúde”.
Uma hora é o tratamento disso, outra é daquilo, mais adiante os tratamentos de beleza, o clareamento dos dentes, o botox, drenagem linfática, lipostabil e tantos outros que surgem de tempos em tempos. Se antes apenas as mulheres eram afeitas aos modismos e aos tratamentos de “saúde”, hoje os homens também estão aderindo às mais incríveis cirurgias e intervenções. Na internet, então, o que existem de indicativos de tratamentos e produtos de beleza e de melhoramento da saúde são casos de polícia. Isso sem falar na TV, onde técnicos e profissionais de diferentes áreas oferecem seus trabalhos e conselhos como uma mercadoria de prateleira.
Não sei o que os conselhos das áreas de saúde pensam a respeito disso, mas entendo que seria muito importante que o Ministério da Saúde se preocupasse com esse filão, estabelecendo normas bem claras sobre determinadas propagandas. Se a automedicação é condenável, o que dizer desses “tratamentos de ocasião” que são oferecidos de forma generalizada e que acabam influenciando tantas pessoas?
Quem por exemplo já não tem em casa, ou comprou e se desfez, dos mais caros cabides que se conhece? Ora, estou falando da bicicleta ergométrica, da esteira elétrica ou ainda do aparelho de abdominais. São verdadeiros “milagres” tomando conta de nossas vidas, enchendo os bolsos de profissionais sem escrúpulos e servindo de mera especulação de mercado. É preciso um basta em tudo isso, pois em nome da saúde, do nosso bem-estar, estão usando da “empurroterapia” para nos enganar.
E o que dizer de determinadas cirurgias para emagrecimento, correções e aperfeiçoamento corporal? É uma verdadeira loucura, com custos elevadíssimos e com efeitos extremamente duvidosos. Sem falar nas chamadas dietas e reeducação alimentar.
Parece mesmo que a saúde do povo de médio a bom poder aquisitivo, mas especialmente o de médio, está virando “brinquedo” nas mãos de maus profissionais. O povo é induzido a esses modismos de corpos sarados, de saúde aparente, de efeitos fantásticos, como se corpo esbelto, curvilíneo, atlético fosse um fundamento básico de bem viver. Esses “profissionais de saúde” que me desculpem, mas viver é fundamental. E vida não é moda. Saúde muito menos. Um pouco de escrúpulo e ética não faz mal a ninguém.
Osni Gomes (osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos sábados neste espaço.