O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chega ao País na noite deste domingo, na primeira visita de um chefe de Estado russo ao Brasil. Ele se encontra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final da manhã de segunda-feira, para tratar de temas que variam da venda de carne à cooperação na construção de foguetes. Depois de almoçar no Itamaraty, ainda na segunda-feira, ele embarca para o Rio de Janeiro para uma agenda privada. O presidente russo não deverá ir a São Paulo.
Havia a expectativa de que Putin viesse escoltado por caças Sukhoi, que concorrem na licitação feita pelo governo brasileiro para modernização das Forças Armadas. O Itamaraty, porém, não tinha informações a esse respeito até hoje. Tampouco havia sido pedida autorização da Aeronáutica para o ingresso das aeronaves no espaço aéreo brasileiro.
Pelo lado russo, o principal tema na agenda é o apoio do Brasil para seu ingresso na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que não será nada difícil. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, já se declarou favorável, assim como a diretora do Departamento de Europa do Itamaraty, embaixadora Maria da Graça Carrion. "O Brasil apoia o ingresso da Rússia na OMC, pois se trata de um parceiro da maior relevância", afirmou ela.
Segundo a embaixadora, será "difícil" conseguir da Rússia alguma concessão adicional nas cotas de importação de carne durante essa visita. O tema está sendo tratado em paralelo informou. "Mas certamente trataremos da carne, que é uma de nossas prioridades", disse.
O setor privado brasileiro esperava que o Brasil utilizasse o apoio na OMC como moeda de troca para melhores condições de comércio na carne. Essa estratégia mais agressiva, porém, parece descartada pelo Itamaraty. A embaixadora também evitou vincular a venda dos Sukhoi a qualquer outra negociação comercial. Uma missão de técnicos russos esteve hoje visitando a Embraer.
As exportações de carnes representam 40% de tudo o que o Brasil vende para a Rússia, informou Rodrigo Azeredo, do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. Outros 45% do comércio se concentra em açúcar. Por isso, a diversificação da pauta de exportações é um dos desafios na relação bilateral. Azeredo lembrou que, recentemente, foi promovida a semana da moda brasileira em Moscou, com grande sucesso. A venda de roupas e acessórios é um mercado a ser explorado, assim como os serviços de automação bancária.
Brasil e Rússia também tentarão aproximar seus setores bancários. Hoje, todo o comércio é feito com base em cartas de crédito emitidas por bancos de terceiros países, devido à falta de comunicação direta entre bancos brasileiros e russos. Isso encarece o comércio bilateral.
Durante a visita, é possível que seja assinado um acordo de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o banco de comércio exterior da Rússia. Também deverá ser assinado um acordo para evitar a tributação e combater o crime fiscal e um memorando de entendimentos na área de telecomunicações.
Satélites
Outra importante área de cooperação é a espacial. Brasil e Rússia assinarão um memorando de entendimentos nessa área. "Essa cooperação será muito importante para fortalecer o programa espacial brasileiro", disse o diretor do Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais, ministro Everton Vargas. O Brasil quer a tecnologia russa para desenvolver uma nova família de veículos lançadores de satélites (VLS).
Desde os anos 80, o Brasil já construiu dois VLS que não foram ao espaço. Eles utilizavam combustíveis sólidos. A Rússia possui tecnologia para combustíveis líquidos, que os brasileiros querem usar. Em troca, a Rússia poderia explorar junto com o País a Base de Alcântara (MA). Os termos desse acordo, porém, só começarão a ser negociados no ano que vem.
