O presidente Lula reuniu na Granja do Torto 25 deputados da bancada situacionista, ocasião em que fez duras críticas a segmentos do PT e buscou afastar os fantasmas que ameaçam a unidade partidária e seus acordos com aliados. O motivo do encontro foi a questão da CPI dos Correios, um palanque para as oposições e um atoleiro para as forças situacionistas, que pode comprometer o desejo de Lula e do PT de reeleição.
O presidente da República atribui as dissensões de petistas e sua aliança com aqueles que querem a CPI e atacam políticas governamentais, dentre elas a econômica tocada pelo ministro Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, à ambição de voltar ao poder. Um entendimento que traduz suposto desejo desses petistas de ganhar a opinião pública abrigando teses oposicionistas, mesmo que seja à custa de comissões parlamentares de inquérito e ataques à política econômica. Qualificou de equivocados aqueles que ?acham que vão salvar seu próprio mandato?, para acrescentar: ?Se o governo vai bem, todos vão bem. Se vai mal, afundamos juntos. Não existe saída individual. Estamos no mesmo barco?.
Lula avisou: ?Não vou dizer o que vocês devem fazer?, referindo-se ao posicionamento dos petistas em relação à CPI dos Correios, embora já tenha ficado claro que o presidente arregaçou as mangas (e as verbas orçamentárias) para impedir que a investigação se dê no Congresso. Asseverou que o objetivo da oposição não é atingir o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, mas o próprio PT, do qual é aliado. E insistiu: defenderá o PTB, Roberto Jefferson e mesmo o ministro Romero Jucá, objeto de denúncias e processos, enquanto não houver culpa formada.
Mostrando uma posição otimista e cautelosa, disse que ?se compararmos, nossos números são melhores do que qualquer governo. Mas não basta. Temos que superar os problemas políticos. Muitos governos bons foram derrotados por questões de imagem?.
No teor do seu discurso, foi distribuída aos petistas presentes uma cartilha com argumentos contra a CPI dos Correios. Ficou claro que o entendimento do presidente Lula é de que o PT que hoje critica o seu governo (principalmente sua política econômica) e alia-se aos oposicionistas que fazem denúncias de corrupção no governo, mudou. Não é o mesmo que subiu ao poder com ele nem o que o acompanhou por mais de duas décadas de lutas políticas e sindicais. Aí, pode haver um inocente equívoco. Inocente, porém capaz de ir comendo pelas bordas o prestígio não mais só do PT, mas do próprio Lula.
O que teria mudado não seria o PT histórico, mas o próprio Lula. O PT histórico defendia rígidas posições éticas na política e na administração e uma política econômica nacionalista e até socializante, longe do neoliberalismo que foi praticado pela administração FHC. O presidente Lula é que se curvou à política de produção de elevados superávites, pagamento da dívida externa a qualquer custo, atração do capital estrangeiro oferecendo elevados juros e uma certa condescendência com uma imagem ética que vem sendo deteriorada.