O último dia do horário eleitoral dos presidenciáveis reservou um presente para o PT e um castigo para o candidato José Serra (PSDB): a transferência de 8 minutos do tucano para o adversário petista, Luiz Inácio Lula da Silva, por ordem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A ajuda inesperada a Lula em sua luta para romper a barreira dos 50% dos votos decorreu de um direito de resposta a dois recentes ataques que lhe fez o programa adversário. E o PT, ironicamente, foi buscar ajuda na figura em quem ele mais bateu nos últimos oito anos – o presidente Fernando Henrique – e também na de outro velho companheiro de lutas de Serra, o ex-governador Mário Covas.
As queixas do PT, que o TSE considerou procedentes, eram duas. Primeiro, a afirmação, feita no programa de Serra, de que o presidente do partido, José Dirceu, teria induzido grevistas a agredirem Covas, em 2000. Segundo, que Lula, não tendo diploma universitário, não estaria preparado para governar.
O próprio Dirceu apareceu para responder à primeira. “É um absurdo”, afirmou sobre as alegações dos tucanos, que segundo ele usaram “técnicas de montagem de imagens” para mostrar uma mentira. O PT exibiu depois imagens de Covas elogiando Marta Suplicy na campanha desta para a Prefeitura, em 2000, e no palanque presidencial de Lula em 1989.
Diploma
O segundo golpe em Serra foram palavras do presidente da República questionando a importância do diploma. “Tem gente que tem diploma e não está preparado (para governar), gente que não tem e está e que não tem e não está”, foi a frase do presidente, tentando não ofender ninguém.
À parte a vingança petista no horário de Serra, o último dos 40 programas dos presidenciáveis ficou a meio caminho entre mensagens já exibidas e algumas cenas de despedida comportadas.
Ciro Gomes (PPS) fez uma análise das outras candidaturas e fechou o programa, à noite, com cenas de família – apareceu com a mãe, Maria José, a mulher, Patrícia, a filha, Lívia, o filho, Iuri, exceto o outro filho, Ciro, que está na Austrália.
O candidato Anthony Garotinho (PSB) também repetiu sua proposta de “único oposicionista” e pediu votos para “disputar o segundo turno com Lula”. Este exibiu de tarde a homenagem às mulheres, com aparição do cantor Chico Buarque de Holanda.
No seu espaço, Serra recorreu ao presidente Fernando Henrique – que antes só havia aparecido no primeiro dia. FHC fez um pronunciamento gravado em recente visita a Minas Gerais. À tarde, Serra recorreu a uma mensagem de dona Lila Covas, segundo a qual “se Mário Covas estivesse aqui, daria seu voto a Serra”.
O clima de “último dia” de horário eleitoral na TV, na verdade, perdeu um pouco do impacto por causa do debate dos presidenciáveis, marcado para as 22 horas na “TV Globo” e que roubou a cena, como momento decisivo. Assim, os 40 dias de horário na TV, 20 dos quais dedicados aos presidenciáveis, não chegaram a alterar a situação de cada um deles.
Descontadas as aparições de todos eles em apoio a governadores, deputados ou senadores, os concorrentes ao Planalto tiveram 40 programas (dois por dia) entre 20 de agosto e ontem. Serra, dono do maior tempo, dispôs de cerca de 6 horas e meia, no total. Os nanicos do PSTU (José Maria de Almeida) e do PCO (Rui Pimenta) ficaram com pouco mais de 40 minutos.