O PT quer aproveitar a divulgação do dossiê Furnas para tirar de suas costas o peso das denúncias de envolvimento com caixa 2 que tanto arruinaram a imagem da sigla no ano passado. Hoje, na reunião da Executiva, em São Paulo, o PT aprovou uma resolução na qual enfatiza a necessidade de "apuração rigorosa de todas as denúncias de caixa 2 referentes às estatais, inclusive em relação à lista de Furnas, suposto esquema de caixa 2 que teria sido organizado naquela estatal pelo PSDB e PFL".
O documento ressalta que figuram na lista os dois presidenciáveis tucanos: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, José Serra.
A ofensiva petista, admitiu um dirigente do partido, faz parte de uma estratégia para controlar os termos do relatório final da CPI dos Correios e a eventual prorrogação da CPI dos Bingos. "É claro que há um processo de negociação", reconheceu um integrante da cúpula petista, que nega, entretanto, que o partido esteja por trás do vazamento da lista. Publicamente, todos os dirigentes rechaçaram a existência de um suposto acordo com a oposição para evitar maiores prejuízos políticos para todos. "Não aceitamos qualquer tipo de acordo em relação a essa apuração", assegurou o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini.
Na nota oficial aprovada ao final do encontro, o PT, inclusive, "refuta qualquer acusação de autoria da lista, tática que segundo o partido é usada "por alguns oposicionistas para evitar a investigação".
"A autenticidade dessa lista deve ser investigada com profundidade pela Polícia Federal e pela CPMI dos Correios e, se confirmada, os envolvidos devem ser punidos", afirma o texto da Executiva.
Também faz parte da nova estratégia petista tentar ressuscitar a CPI das Privatizações. "O PT tem de partir para a ofensiva para que todas as denúncias pendentes envolvendo partidos de oposição sejam apuradas", comentou o secretário de Organização do partido, Romênio Pereira.
Apesar de negarem qualquer participação na divulgação da lista de Furnas, petistas não conseguiam esconder uma certa satisfação quanto ao fato de, agora, o PT deixar de ser a bola da vez. "Até agora, o PT foi o prato do dia. Chegou a vez de os outros darem explicações. Começou a chover granizo na cabeça dos tucanos", afirmou a segunda vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário. "É preciso apurar a veracidade da lista. Mas há fortes indícios de que ela realmente é verdadeira", emendou o terceiro vice-presidente da sigla, Jilmar Tatto.
Secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira, não disfarçou o entusiasmo com as denúncias. "Com a lista de Furnas, ficou mais fácil falar", reagiu ele, aliviado. Ferreira afirmou que a divulgação do dossiê ajuda a comprovar que as irregularidades no financiamento de campanha não são atributo exclusivo do PT. Mas fez questão de negar, com veemência, haver participação da sigla no vazamento. "A lista preexistia. Supostamente tem origem em um ex-funcionário de Furnas. O PT não tem absolutamente nada a ver com a divulgação", frisou.
