O PT registrou ontem a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a promessa de que o caixa 2 vire coisa do passado. No entanto, não anunciou qualquer inovação, além das exigidas por lei, que garanta mais transparência nas finanças partidárias. O presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o tesoureiro da campanha, o prefeito licenciado de Diadema, José de Filippi Júnior, não se comprometeram com a divulgação sistemática, ao longo da disputa eleitoral, dos nomes dos doadores e dos prestadores de serviço
"Não vamos nos comprometer em dar os nomes antes do fim da campanha", disse Berzoini. "Não estamos trabalhando com a lógica da obsessão por informação a cada momento", completou o deputado. Depois do desgaste com a descoberta do milionário esquema ilegal que abasteceu campanhas do PT e de aliados, o comando petista resolveu não fazer repasses de dinheiro para partidos que apóiam Lula. Segundo Berzoini, serão compartilhados no máximo os palanques e o material de campanha
Uma das revelações do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao desencadear a pior crise do governo Lula foi ter recebido do caixa 2 do PT R$ 4 milhões em dinheiro vivo, levados em malas à sede do PTB em Brasília. "Não haverá relação financeira com outro partido. Podemos compartilhar despesas de um comício, por exemplo, ou de material, de logística. Mas não haverá trânsito financeiro", disse Berzoini
Berzoini prometeu "relatos periódicos para a opinião pública" sobre arrecadação e gastos, mas ressalvou: "Estamos fazendo a avaliação sobre a informação dos contribuintes privados, isso tem que ser tratado do ponto de vista de quem contribui, não sabemos se eles vão querer seus nomes divulgados antes do fim da campanha.
O presidente petista esclareceu que o limite de gastos de R$ 89 milhões, registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), "não representa o orçamento da campanha, que será bem menor". O cálculo, segundo Berzoini, foi feito para que o partido não corra o risco de ultrapassar a previsão. Pelos cálculos do secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, o gasto da campanha será de R$ 55 milhões
No primeiro dia como tesoureiro da campanha petista, Filippi reconheceu: "A campanha passada teve descuidos que não pode ter mais, como a contabilidade dos recursos." E foi claro na promessa: "Não vamos trabalhar com caixa 2." O responsável pelas finanças disse que pretende "ousar um pouquinho na questão da informação" sobre arrecadação e gasto, mas nada de concreto foi anunciado
Com as novas regras eleitorais, os partidos são obrigados a prestar contas parciais na primeira semana de agosto e de setembro, mas não estão obrigados a identificar doadores e recebedores dos recursos. O TSE exige apenas receita e despesas parciais. Filippi e Berzoini disseram que ainda não está decidido se o PT irá além do exigido
Filippi também reconheceu o desgaste do cargo de tesoureiro depois do escândalo do caixa 2. "O histórico desse cargo não é bom. Espero que a gente faça diferente. Basta ver do que já estão me chamando, de substituto do Delúbio, de PC Farias (tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor)", afirmou Filippi. O prefeito disse ter ficado três dias sem dormir após a indicação
Berzoini disse que "não há restrição, a priori" para nenhum doador à campanha, salvo os impedimentos previstos em lei, como doação de estatais ou de empresas prestadoras de serviços ao governo federal