Enquanto alguns petistas afundaram a mão no dinheiro, enriquecendo com recursos do povo ou de origens obscuras, a crise que faz desmoronar o bom conceito do partido de Lula ganha, em alguns círculos, versão ideológica.

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Analistas dos procedimentos das esquerdas marxistas, muitos deles também marxistas, justificam toda essa sanha por dinheiro quando entregue ao PT como um processo para enriquecer a agremiação de forma a que se chegasse à mexicanização política do Brasil. Isso significaria o que aconteceu no México, onde por mais de setenta anos um mesmo grupo e uma mesma agremiação ficaram no poder.

Uma versão mais ideológica e que é levantada até mesmo nas forças armadas, não expressas publicamente, é que dentro da filosofia marxista e sob o comando de José Dirceu, o esquema montado foi para enriquecer de qualquer forma o PT. Tirar dinheiro de onde quer que fosse possível para reforçar o partido não significaria um procedimento imoral e, sim, um processo necessário para que se chegasse ao partido único, próprio do comunismo. Para dinheiro arrancado por alguma artimanha de empresas privadas, haveria convincente justificativa. ?O lucro é um roubo?, para os marxistas.

Assim, muitos dos envolvidos nesse processo de compra de votos, apoios individuais e de legendas estariam laborando dentro de uma ética própria de sua ideologia. Não seriam malandros, mas patriotas fiéis aos seus princípios políticos dogmaticamente abraçados.

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Essa teoria, que tem numerosos adeptos, está de certa forma sendo desmentida ou rejeitada por petistas de posições mais à esquerda do grupo que ainda cerca, fielmente, o presidente Lula. O processo interno de renovação da desmantelada cúpula petista, engolfada no mar de lama que respinga até no governo, está produzindo defecções exatamente dos petistas mais à esquerda. Anunciou-se que mais de quatrocentos mil petistas decidiram deixar o partido e ingressar no PSOL da senadora Heloísa Helena. Ela, com alguns deputados da agremiação, foi expulsa da legenda por defender os trabalhadores na reforma da Previdência.

Além desses militantes, deixam o partido nomes importantes, como o petista histórico Plínio de Arruda Sampaio e, por enquanto, mais dois deputados federais, Ivan Valente e Orlando Fantazzini. O ex-governador do Distrito Federal e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque já se desligou da legenda de Lula. E o jurista Hélio Bicudo, um dos nomes mais respeitáveis e respeitados do PT, também anunciou o seu desligamento.

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Outras defecções vão ainda ocorrer, pois estamos às vésperas do prazo final para mudanças de agremiações para aqueles que desejam concorrer às eleições do ano que vem. ?Estamos nos desfiliando hoje do partido que ajudamos a fundar há 25 anos, o PT. Não é uma decisão tranqüila… Mas o PT esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira?, diz nota assinada por Plínio e Valente.

O que está acontecendo autoriza arriscar uma opinião: a idéia de enriquecer o PT para transformar-se em partido único existia e o processo foi desencadeado. Mas perdeu-se em meio a ambições pessoais e atos que não se justificariam, mesmo que escudados em argumentos ideológicos. Foram desmascarados como práticas de evidente corrupção.