PT diverge sobre rumos da política econômica

As divergências em relação à política econômica do governo Lula deram o tom das discussões hoje, durante o primeiro dia da última reunião do ano do Diretório Nacional do PT. Antes mesmo do início do encontro, que termina amanhã (21), os membros do partido já expunham, na recepção da sede da legenda em São Paulo, suas opiniões com relação aos rumos da economia do País.

De um lado o ministro das Cidades, Olivio Dutra, defendia uma reavaliação da condução da política econômica do governo do PT. Do outro, o ministro da Educação, Tarso Genro, reiterava o apoio às decisões do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Para Dutra, o PT necessita de "um bom debate sobre a política econômica dentro do governo e também do governo com o partido". "Não podemos ser prisioneiros de uma política econômica imposta de fora para dentro por alguns setores da sociedade que têm interesses e direitos, mas que não podem se sobrepor aos interesses coletivos da nação", defendeu.

Já Genro saiu em defesa de Palocci. O ministro da Educação afirmou que a política desenvolvida pelo ministro da Fazenda até o momento "foi necessária, de rigidez e estabilidade macroeconômica". Genro acrescentou que as trepidações em relação ao rumo da economia do País ocorrem agora porque, segundo ele, chegou o momento de consolidar a transição, a taxa do crescimento e entrar em 2005 "com as velas abertas". O ministro acrescentou: "transição não é ruptura e ela está sendo realizada".

O deputado federal Ivan Valente, da corrente Força Socialista, uma das alas mais à esquerda do partido, defendeu uma mudança radical na condução da economia do País. Na avaliação do parlamentar, é preciso ainda que o PT rediscuta que tipo de crescimento que ele almeja para o Brasil. Valente reafirmou que o partido precisa ser "chacoalhado". "Há uma crise política, uma crise de identidade e houve perda de massa crítica. É preciso que tudo isso seja repensado", opinou.

O líder do governo na Câmara, professor Luizinho, também saiu em defesa da política econômica desenhada no governo do PT. "O Brasil só vai crescer 4,5% este ano porque tivemos competência de dar equilíbrio e estabilidade ao País", disse. De acordo com ele, a política do governo petista é radicalmente contrária à do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Mudamos o caráter da dívida, reduzimos a vulnerabilidade externa e os juros estão controlados", comentou. Com relação à taxa de juros básica (Selic), o líder do governo na Câmara afirmou que o PT tem se esforçado para que ocorra uma queda continuada da taxa. "O juro é algo e gostaríamos que fosse mais baixo. Mas ele não está comprometendo o crescimento e nem o desenvolvimento do Brasil", enfatizou.

O parlamentar aproveitou ainda para criticar os que defendem uma modificação radical na política econômica. "As pessoas que querem mudar o rumo estão querendo trazer insegurança." O presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou que correções e autocríticas são bem-vindas. Mas acrescentou que eventuais alterações no partido devem ser feitas "sem clima de jogar para a platéia". O petista garantiu que o debate no partido é "livre e democrático". Ele negou que haja racha na legenda. "O que há é debate, discussão. Não queremos guerra interna no PT, mas sim participação efetiva", comentou, acrescentando que o PT tem procurado dialogor com as principais correntes da legenda.

Ao ser questionado se a demissão do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, representava uma mudança na política econômica do governo, Genoino afirmou: "é um equívoco achar que a saída de Lessa é mudança de rumo."

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