Apesar de todo o esforço para abrigar em seu ministério todos os partidos que o apoiaram no segundo turno da eleição, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, terá em sua equipe de auxiliares maioria esmagadora de petistas. De acordo com levantamento feito pelo PT e pelos aliados, dos 23 ministérios planejados por Lula, 12 serão entregues ao PT; das 6 secretarias com status de ministério, quatro também serão dirigidas por petistas.
Conforme as negociações feitas até agora, depois do PT, o partido que terá o maior número de ministérios será o PMDB, provavelmente dois postos na Esplanada. O PL, que aliou-se ao PT antes mesmo do início da campanha, e cedeu o vice José Alencar, também quer dois ministérios, mas não há garantias de que será atendido. Dos que se coligaram com o PT desde o primeiro turno, o PC do B também terá um ministério. Não sabe ainda qual será. Dificilmente o partido será contemplado com o Ministério da Defesa, como deseja.
Os partidos que ajudaram a eleger Lula no segundo turno também terão o mesmo quinhão: um ministério. O PSB deverá ficar com o Ministério da Ciência e Tecnologia, para o qual o partido indicou o seu vice-presidente, Roberto Amaral; o PPS é o favorito para o Ministério da Integração Nacional, com Ciro Gomes; o PTB é que ainda não tem idéia de qual pasta levará. “Não dá é para não ter pelo menos um escritoriozinho na Esplanada dos Ministérios”, afirma o presidente do partido, deputado José Carlos Martinez (PR), repetindo o líder Roberto Jefferson. Jefferson diz que tem conversado por telefone com José Dirceu.
Ao PDT foi oferecido o Ministério das Comunicações, mas o partido o recusou. Dos aliados petistas de primeira hora, PMN e PCB não ganharão ministério.
O deputado José Dirceu (SP), que deverá ser o ministro-chefe da Casa Civil de Lula, e o novo presidente do PT, José Genoíno (SP), conversaram durante o final de semana com os presidentes dos partidos aliados. Falaram que eles não precisam se preocupar, porque todos terão a sua parte no ministério.
“O clima andou um pouco ruim, mas agora sinto que está ficando tudo bem”, disse hoje o deputado José Carlos Martinez, que falou com José Dirceu no sábado e no domingo e deverá manter as conversações com os petistas nos próximos dias.
De acordo com representantes dos partidos aliados ao PT que conversaram com Dirceu e Genoíno de sexta-feira até hoje, todas as vezes em que eles perguntam como está a definição do Ministério, a resposta dos petistas vem acompanhada de uma manifestação de desagrado com a forma como Lula está conduzindo a montagem de sua equipe. Segundo estes dirigentes partidários, Dirceu tem respondido que leva os nomes ao presidente eleito, mas este pede tempo para pensar.
Os dirigentes não culpam Lula. Acham que ele tem razão, porque, ao contrário dos outros, que têm pressa, quer mesmo é montar a melhor equipe. Portanto, alguém que dorme ministro na cabeça de Lula, pode acordar demitido, dependendo dos sonhos e planos do presidente eleito. Essa, por enquanto, tem sido a maior dificuldade para as costuras de Dirceu e, agora, de Genoíno.
O PL informou no fim de semana a José Dirceu que o partido está descontente e pode romper com o governo de Lula antes mesmo da posse. Dirceu pediu mais uma vez paciência. Mas a ala liberal, comandada pelos deputados Bispo Rodrigues (RJ), Luiz Antonio de Medeiros (SP) e João Caldas (AL), quer um tratamento de aliado de luxo. Nas conversas destes parlamentares, eles sempre se queixam de Dirceu e da forma como o PT se relaciona com eles. Costumam lembrar ao PT que o PMDB fez parte da chapa derrotada de José Serra e, mesmo assim, deverá receber dois ministérios fortes: Agricultura e Minas e Energia.