O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), admite a hipótese de que surjam novos repasses "estranhos à contabilidade" do partido, a exemplo do depósito de R$ 1 milhão revelado em benefício da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas). O episódio causou constrangimento a um dos mais fiéis aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, dono da empresa. "Da maneira como se agiu na direção do partido em certo período, não posso descartar outras surpresas", disse. "É tarefa dessa direção fazer um processo interno de esclarecimento dessa operação e de eventuais outras", reiterou o secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira.

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Apesar da saia-justa de Alencar, pelo menos três dirigentes do partido afirmaram hoje acreditar que o depósito à Coteminas tenha sido revelado por iniciativa de dirigentes da própria empresa, como forma de pressionar pelo pagamento da dívida de R$ 12,2 milhões por conta da aquisição, em 2004, de 2 75 milhões de camisetas à campanha eleitoral. "Não há nenhuma informação no PT a esse respeito. Não sei por que esse assunto surgiu agora", afirmou Berzoini, negando o comentários dos colegas que preferiram não se identificar.

O balanço da direção é que o episódio envolvendo a Coteminas não deverá causar maiores estragos à imagem do partido. "Isso entra na conta do caixa dois, na conta do Delúbio (Soares, ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT), e o novo comando do PT não tem nada com isso", disse um dirigente.

Buraco

Motivo maior de preocupação na legenda hoje é a sobrevivência. Os salários dos funcionários estão atrasados, bem como os repasses à Fundação Perseu Abramo. Além disso, o partido tem dívidas de mais de R$ 53 milhões e enfrenta cobranças na Justiça de vários credores. Nessa conta, estão de fora os supostos empréstimos que abasteceram o valerioduto. De acordo com Ferreira, se não recuperar a solvência em janeiro, o PT terá de passar por profunda reestruturação. Em novembro, 37 funcionários foram demitidos, e outras várias medidas de economia foram adotadas.

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Os débitos referentes ao fornecimento de software no processo de informatização do partido – R$ 719 mil – foram protestados pela License Company desde maio. Também a agência de publicidade SMP&B, uma das empresas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, cobra R$ 460 mil que devem ser executados nas próximas semanas. Outras instituições, a exemplo do BMG, foram à Justiça exigir pagamento.