A quatro dias das eleições, a cúpula do PSDB escolheu um novo alvo para desgastar politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: suas novas relações com o deputado Delfim Netto (PMDB-SP), que não foi reeleito. Cotado para ocupar um cargo importante em um eventual segundo mandato de Lula, Delfim já vem atuando como conselheiro do presidente para assuntos econômicos, tanto que tem participado de reuniões do PMDB no Palácio da Alvorada e, inclusive, estava entre os convidados do presidente no debate de segunda-feira realizado pela TV Record.
A decisão do PSDB de "colar" Delfim a Lula, que foi ministro da Fazenda do regime militar e vivia em confronto com sindicalistas liderados por Lula, foi decidida em reunião da cúpula do partido minutos antes do comício no Anhangabaú, ontem. Coube ao candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin, e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reforçar o discurso. Nas conversas os tucanos lembraram a existência de uma ata do Conselho de Segurança Nacional, em que o ex-presidente Costa e Silva não queria cassar o mandato do então deputado Mario Covas. Mas, Delfim interveio a favor da cassação e ainda chamou Covas de comunista.
Tanto Fernando Henrique quanto Alckmin chegaram ao comício prontos para os ataques. Ambos ressaltaram o passado de Delfim para mostrar que Lula, agora mudou e se aliou ao deputado. "Ele (Delfim) era nosso algoz no tempo da ditadura", bradou Fernando Henrique. E Alckmin completou, afirmando que "o homem do AI 5 que disse que era para cassar Mario Covas" é hoje o "mentor" de Lula. Os discursos aconteceram no mesmo dia em que o deputado se reuniu, também em São Paulo, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. No cargo de ministro da Fazenda no regime militar, Delfim Netto se destacou como o artífice do chamado milagre econômico.