Brasília ? O período em que teria ocorrido o maior número de mudanças de partido na Câmara dos Deputados, desde 2003, foi a época também em que o empresário Marcos Valério liberou as maiores quantias de recursos ao Partido dos Trabalhadores (PT). É o que indica um estudo realizado pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a pedido do deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). "Nossa idéia era fazer uma radiografia das votações e também das liberações de acordo com o mapa distribuído por Marcos Valério", explicou o tucano.
O estudo mostra que, de janeiro a junho de 2003, o PT recebeu do empresário cerca de R$ 16,4 milhões ? que, segundo o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, foram usados para pagamento de despesas de campanha. "O período do pagamento maior foi o período também em que teve o maior número de trocas de partidos. E, principalmente, de gente que queria ir para o governo. Os partidos que engrossaram suas fileiras foram o PL e o PTB", disse Redecker. Segundo dados da Secretaria Geral da Mesa Diretora da Câmara, em janeiro de 2003, 14 deputados mudaram para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), legenda do deputado cassado Roberto Jefferson ? autor das denúncias do suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares, o chamado "mensalão".
Nesse mesmo mês, 11 deputados foram para o Partido Liberal (PL) e dois para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). No entanto, nenhum parlamentar mudou para o PT ou para o Partido Progressista (PP). Todas essas legendas receberam recursos, segundo o empresário Marcos Valério. De janeiro a junho de 2003, 22 deputados foram para o PTB; 19 para o PL; quatro para o PMDB; um para o PP e nenhum para o PT.
Um dos gráficos do levantamento do PSDB mostra ainda que o PTB teria recebido R$ 5 milhões – a maior quantia recebida pelo partido de Marcos Valério ? em julho de 2004 durante as campanhas municipais. Mas Redecker questiona se o recurso foi realmente utilizado para quitar dívidas eleitorais. "O deputado cassado Roberto Jefferson disse que recebeu R$ 4 milhões, não nega isso. Mas não diz para onde foi esse dinheiro. Quem disse que foi para pagamento de campanha? Enquanto ele não disser, não se pode saber o destino do dinheiro", afirmou o tucano.
O estudo do PSDB relaciona ainda as datas e quantias dos repasses de Marcos Valério às principais votações ocorridas no Congresso. "Se nós observarmos que a maior parte das liberações ocorre juntamente com as trocas partidárias começamos a perguntar: por quê? Outra questão de destaque é que foram liberados esses recursos antes e logo depois de votações importantes para parlamentares que foram buscar esses valores, inclusive, no Banco Rural em Brasília. Há muita coincidência para dizer que não houve ?mensalão?", ressaltou Redecker.