Márcio Pena / Greenpeace |
Protesto do Greenpeace em frente à sede da Dow Química em São Paulo. |
Ativistas do Greenpeace montaram hoje em frente à sede latino-americana da Dow Química, em São Paulo, um painel de quatro metros de altura por um metro de largura, construído com estruturas de andaime, com a mensagem “Bhopal – Crime Corporativo” nas laterais, além de estilizações do logo da empresa com uma caveira aplicada.
Do outro lado do painel fotos da tragédia foram expostas pedindo que os funcionários da multinacional ajudem a fazer justiça em Bhopal e enviem uma mensagem ao diretor-executivo internacional da empresa. Os ativistas também entregaram uma carta à diretoria da multinacional para a América Latina com as demandas da Campanha Internacional por Justiça em Bhopal, da qual o Greenpeace faz parte.
A tragédia da cidade indiana de Bhopal, reconhecida como o pior acidente industrial da história, começou na madrugada de 2 para 3 de dezembro de 1984, quando a indústria de fertilizantes de propriedade da Union Carbide inundou a cidade com um coquetel de gases mortais lançados à atmosfera pela explosão de um tanque de metil-iso-cianato.
A tragédia iniciada há 18 anos continua até hoje. O desastre já matou 20 mil pessoas e afetou a saúde de mais 150 mil. Compostos químicos tóxicos têm vazado das instalações para o solo e águas subterrâneas, dentro e no entorno da antiga fábrica, envenenando a população vizinha sobrevivente ao desastre. Dados oficiais do governo da Índia apontam cerca de 30 mortes todos os meses em conseqüência da tragédia. Filhos de sobreviventes nascem com problemas de saúde e cerca de 150 mil pessoas necessitam de atenção médica continuada.
A gigante Dow Química nega-se a descontaminar a área e a compensar os atingidos pelo acidente, mesmo sabendo que as centenas de toneladas de lixo tóxico espalhadas na antiga fábrica de pesticidas, hoje abandonada, continuam a envenenar lentamente a população vizinha que depende de água de poços para beber, cozinhar, banhar-se, etc.
Um relatório do Greenpeace lançado na semana passada apresenta mais evidências da contaminação química tóxica proveniente do lixo químico da fábrica. Cientistas da organização identificaram a presença de numerosos compostos venenosos no resíduo industrial, incluindo Sevin, o pesticida anteriormente manufaturado pela Union Carbide em Bhopal, e BHC, uma mistura de compostos químicos tóxicos, que podem causar danos ao sistema nervoso, ao fígado e aos rins, e que, durante a gestação, são passados para os fetos.
Bhopal é o mais terrível acidente industrial da história, mas infelizmente não o único. Relatórios produzidos pelo Greenpeace no Brasil e no mundo mostram que são muitos os casos de crimes corporativos. “Corporações como a Dow beneficiam-se do mercado global para o desenvolvimento de seus negócios, mas não são globalmente responsabilizadas pelas suas operações; até que o sejam, crimes como este continuarão acontecendo e as pessoas e o meio ambiente seguirão pagando o preço da irresponsabilidade corporativa”, disse John Butcher, da Campanha de Substâncias Tóxicas do Greenpeace Brasil.
A Campanha Internacional por Justiça em Bhopal demanda que a Dow aceite sua responsabilidade pelo passivo ambiental e humano em Bhopal, limpe o local, forneça água limpa aos habitantes e garanta tratamento médico de longo prazo e indenizações adequadas. O Greenpeace também trabalha para que seja criada uma legislação internacional que assegure que empresas como a Dow sejam responsabilizadas pela poluição e pelos acidentes que suas operações causem, onde quer que seja.
“A Dow não pode fugir das suas responsabilidades em Bhopal, no Brasil, ou qualquer outro local no mundo. Cidadãos do mundo todo irão se reunir em Porto Alegre na próxima semana contra o abuso corporativo. As corporações não podem comandar o mundo; elas devem servir aos interesses das comunidades”, completou Butcher.
O Greenpeace promoverá duas exposições fotográficas sobre o crime corporativo de Bhopal, com fotos do renomado fotógrafo indiano Raghu Rai: durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e na cidade de São Paulo.