Propaganda enganosa

Ao prometer a criação de dez milhões de empregos, o PT e o presidente Lula fizeram propaganda enganosa. Enganosa também foi a dos demais candidatos, mas Lula é responsabilizado pela opinião pública porque foi o eleito. E porque foi o mais generoso nas promessas. Embora os seus adversários também falassem em números mirabolantes, sempre se contiveram um pouco, talvez porque mais experientes administrativamente. Sabiam que não seria possível realizar o prometido, mas queriam estar menos longe das expectativas que atiçavam no povo, em busca do seu sufrágio. Pode-se acrescentar ainda, como circunstância atenuante para a propaganda enganosa de Lula, seu indiscutível e reconhecido desejo, como ex-líder sindical e calejado lutador das trincheiras do operariado, de gerar os empregos que prometia. Na sua equipe de campanha havia, com certeza, muitos que sabiam que se estava levando ao povo propaganda enganosa. Mas encaravam tudo como mentira piedosa. Que Lula não vai criar os dez milhões de empregos, já é evidente até para ele próprio.

O problema é que emprego e renda em baixa freiam a recuperação do Brasil. Quando o desemprego sobe, anula os tímidos sinais de aquecimento econômico do País. A esta conclusão chegou o jornalista Rayhmond Colitt, do Financial Times, de Londres, depois de ter ouvido vários “experts”, inclusive economistas brasileiros.

Vivemos um período de recuperação econômica incipiente, ainda incapaz de anular as resvaladas de passado recente. Pode-se dizer, cotejando o crescimento pequeno de hoje com o encolhimento no passado, que em matéria de desenvolvimento econômico estamos no mesmo lugar. No ponto zero.

O desemprego breca a recuperação, mesmo que em situações pontuais venhamos a constatar percentuais de crescimento econômico, como agora. Os desempregados pouco ou nada consomem. Ninguém irá investir no seu negócio baseado nessa massa de consumidores marginalizada. Os ainda empregados reduzem o seu consumo porque tem caído o seu poder aquisitivo e também porque têm medo de, mais dia, menos dia, ter de juntar-se à massa de desempregados que já representa 13,1% da população economicamente ativa.

Outra razão para a inibição dos investimentos é a taxa de juros. Juros altos assustam os empresários, que preferem, ao invés de tomar dinheiro e investir, maximizar, quando necessário, a capacidade produtiva de seus estabelecimentos. E isto tem sido possível, já que há ociosidade na máquina produtiva. Tínhamos um setor da economia que vinha mostrando crescimento efetivo, enquanto os demais encolhiam. Referimo-nos ao setor primário, a agricultura. Mas mesmo esta já está demonstrando que, na safra deste ano, produzirá menos do que no ano passado. Ficamos escorados apenas no comércio exterior, que vai bem. Estamos exportando cada vez mais, somando superávits sobre superávits. Mas é preciso muita atenção, pois as importações também estão crescendo. Isso não é em si um mal, pois precisamos importar para produzir e crescer. Será um mal, entretanto, se não for acompanhado de outros números positivos no processo de desenvolvimento econômico.

Lula, que não imaginava que esse negócio de economia era tão complicado, agora deve estar muito preocupado, embora declare estar tranqüilo. Ele é um político e o PT não lhe assegurará a reeleição, se perder em São Paulo, exatamente onde o desemprego é mais grave. Tomara que o problema político consiga desemperrar a economia.

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