Campanha antitabagista em pacotes de cigarro é eficiente. Melhor ainda se ela for grande, estiver bem posicionada e incluir imagens que representam os males do fumo, como ocorre por lei nos maços brasileiros. A advertência tem sido associada com aumento da motivação e das tentativas em parar de fumar, de acordo com estudo feito com cerca de 15 mil fumantes dos Estados Unidos, do Canadá, do Reino Unido e da Austrália.
A pesquisa, conduzida por David Hammond, da Universidade de Waterloo, no Canadá, entre 2002 e 2005, comparou a reação dos fumantes às diferentes propagandas e o quanto elas são de fato percebidas pelos usuários. ?Quanto mais as pessoas têm reações emotivas, mais elas tentam, pelo menos, reduzir o consumo?, comenta Hammond.
Por exemplo, no Canadá, onde a campanha é a mais abrangente, cobrindo 50% da frente e 50% da parte de trás do maço, com 16 tipos de textos e imagens (como a de uma vítima de câncer na boca), 40% dos fumantes ouvidos contaram que ao ver as fotos tiveram uma reação imediata de tentar parar. ?Muitas relataram medo e repulsa?, diz.
Os quatro países ratificaram a Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas para Controle do Tabaco (FCTC, na sigla em inglês). O tratado estabelece que os maços tenham advertências que cubram no mínimo 30% da embalagem, mas sugere que o ideal mesmo é que o aviso de prevenção ocupe 50% e, de preferência, inclua imagens.
Mas nem sempre isso é seguido. Os EUA, por exemplo, que têm o menor, menos detalhado e mais antigo anúncio (de 1984), são também o país com menor eficiência na contrapropaganda. ?As advertências americanas são muito pobres comparadas com outros países?, escrevem os pesquisadores em artigo publicado nesta semana no American Journal of Preventive Medicine.
Lá as advertências (de apenas quatro tipos) aparecem só na lateral dos maços. Na Austrália, seis mensagens de texto diferentes ocupam 25% da frente e 33% da parte de trás. No Reino Unido, 16 avisos aparecem em 30% da área da frente e 40% atrás.
Campanha Brasileira
Não temos no Brasil um levantamento sobre o impacto exclusivo das imagens nos maços de cigarro, mas pesquisas mostram que o número de fumantes no Brasil está em queda. Em 1989, 32% da população com mais de 15 anos era fumante. Em 2003, esse número havia caído para 19%. Tânia Cavalcante, coordenadora do Programa Nacional de Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde, acredita que a redução se deve a ações tomadas com o intuito de mudar a visão positiva do cigarro criada pela indústria tabagista.
Mas ela concorda com os resultados apresentados na pesquisa canadense e considera a avaliação muito bem-vinda. ?Logo no início percebemos que as imagens repercutiram bem entre a população, mas de um modo geral a maioria pedia por imagens mais impactantes?, comenta.
Quando a campanha entrou em vigor, em 2002, os maços passaram a trazer, além das fotos, o telefone do ?Disque-Pare de Fumar?. O serviço já existia havia um ano, mas a partir da divulgação nos pacotes de cigarro, as ligações triplicaram. Aproveitando a boa procura, foi feita uma pesquisa com cerca de 90 mil pessoas (80% delas fumantes) que telefonaram para o serviço. ?A medida foi apoiada por 92% das pessoas, mas elas ponderavam que eram necessárias imagens mais fortes?, explica Tânia.
Em 2004, um novo grupo de fotos começou a circular, incluindo a de um feto abortado e de um fumante que perdeu uma das pernas. ?Buscamos imagens que sejam eficientes para quebrar o elo que o fumante tem com o maço. Ele é atraente, a associação para o dependente é positiva. Com as imagens conseguimos tirá-lo desse transe. Ele vai pensar antes de acender o próximo cigarro. Com as fotos, no mínimo, ocorre uma diminuição na quantidade de cigarros fumados por dia.
