O Ministério da Educação lançou o Programa Brasil Alfabetizado para ensinar pessoas acima de 15 anos a ler e escrever e trabalha pela extraordinária meta de alcançar todos os brasileiros nesta condição até 2010. Assim sendo, o feliz evento deverá ser anunciado na conclusão do próximo mandato presidencial, ao que tudo indica por Luiz Inácio Lula da Silva, cuja vitória no primeiro turno é indiscutível sob a luz de todas as pesquisas de intenção de voto.
Até o final do ano passado, o projeto do governo chegou à marca de 5,3 milhões de jovens de 15 anos para mais alfabetizados, embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tivesse registrado o número assaz inquietante de 15,1 milhões de jovens analfabetos acima de 15 anos, reduzindo-os a uma condição social inferior aos requisitos mínimos de dignidade e competitividade.
Alfabetizar o contingente de brasileiros sedentos de oportunidades de progresso pessoal, ampliando a perspectiva de atingir novos horizontes na formação educacional, elemento indispensável na promoção humana, é uma tarefa que o governo se obriga a repartir com a sociedade. Aliás, sem concurso da sociedade será cada vez mais difícil a obtenção da magnífica láurea da alfabetização do último jovem acima de 15 anos.
Um dos entraves é a baixa capacidade de mobilização social em torno de metas desse teor, ou seja, o sentimento que esse tipo de problema não diz respeito à sociedade civil. O governo tem a responsabilidade imperiosa de reduzir a distância que o separa da sociedade e, esta, das causas onde sua cooperação é imprescindível. É apreciável o esforço que parte da sociedade organizada realiza em termos de alfabetização em todas as faixas etárias, incluindo a idade adulta, embora ainda se deva reconhecer a enormidade do trabalho a ser feito.
O Ministério da Educação criou o Brasil Alfabetizado em 2003 e, nos três anos de funcionamento do mesmo, investiu recursos da ordem de R$ 218 milhões em repasses às administrações estaduais e municipais para a realização de cursos de alfabetização com duração de seis a oito meses, além do incentivo aos concluintes a prosseguir estudando pelo menos até a oitava série.
Apesar do cuidado louvável do coordenador nacional de alfabetização do Ministério da Educação, Tancredo Maia, em negar que o sucesso do programa seja suscetível a adquirir um tom de campanha, não se pode desconfiar da criatividade dos marquetólogos encarregados da bagagem hiperbólica de avanços do governo Lula, e o desembarque imediato desse item nos programas de rádio e televisão da campanha à reeleição.
Afinal, se o governo Lula tomou a iniciativa de gastar dinheiro com a alfabetização de jovens e adultos é justo que use o argumento em favor da campanha da reeleição. Mas não deveria perder a oportunidade de explicar por que não trabalhou com maior afinco e visão humanista para atingir a meta de alfabetizar os 15,1 milhões de jovens contados pelo IBGE já em 2003. E bem menos frustrante seria admitir que teremos de esperar até 2010 para festejar a alfabetização do último brasileiro jovem ou adulto.
Esta é uma evidência flagrante da disparidade entre a operação eficiente da máquina de arrecadação do governo, da qual se envaidece, e a distribuição dos gastos sociais, item que ainda envergonha o governo.
