Promiscuidade

O publicitário mineiro Marcos Valério seria intermediário dos mensalões. Ou seria inocente, como declarou no seu depoimento na Câmara dos Deputados. Acusam-no de uma prática que se descobre comum nos parlamentos brasileiros, revoltante, nojenta. O roubo do dinheiro do povo para pagar quem vota as leis que nos governam. Se não, o Brasil – que já não é um paraíso, pelo menos para os 40% de compatriotas que vivem na miséria ou abaixo da linha que a demarca de outras classes menos, mas também sacrificadas – é roubado.

Ele não explicou os saques volumosos e repetidos feitos nas contas de suas empresas.

Quem é Marcos Valério, ainda não sabemos com exatidão. Salvo que é um publicitário de Belo Horizonte, dono de mais de uma agência de propaganda, que tem várias contas de órgãos do governo e já tinha outras, na administração passada. Talvez seja um profissional competente para conquistar e segurar tão importante clientela. Talvez seja um delinqüente, dos muitos que desviam e roubam a torto e a direito e estão no governo ou vivem em promiscuidade com os governantes. Roubam de um povo que passa fome, não tem onde morar, não é assistido em saúde pública de forma suficiente e eficiente, não tem segurança nem teto. E, agora, matam suas esperanças.

Nesta hora, movimentam-se alguns corajosos cidadãos e organizações para buscar exercer maior vigilância, buscando evitar a multiplicação das maracutaias e denunciá-las, com o auxílio da imprensa, que está, efetivamente, vigilante.

Antes de que haja prova provada, de homens como Marcos Valério e também os dirigentes do PT, do PL, do PT, do PMDB, enfim, de toda a chamada base do governo, devemos desconfiar. Ou confiar desconfiando sempre. É que existe uma relação promíscua de certas pessoas e empresas com governantes, uma intimidade que muitas vezes se transforma em associação para a prática de crimes. Seria o crime organizado chapa-branca.

Em todos os governos essa promiscuidade é detectada, ora maior, ora menor. A isenção que se exige dos políticos, aos quais cabe defender os interesses da sociedade e não de empresas e pessoas físicas, de particulares de sua intimidade, choca-se com essas relações promíscuas. No Judiciário há a prática de magistrados declararem-se impedidos, quando têm de julgar casos em que amigos ou parentes estão envolvidos ou têm interesses. O mesmo deveria acontecer nos demais poderes, onde ocorre o contrário. Os amigos e parentes é que têm vez.

A reportagem do jornal Folha de S. Paulo descobriu que o inocente Marcos Valério depositou, no final de 2003, R$ 902 mil na conta do procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes, funcionário responsável pelos pareceres sobre multas aplicadas a instituições financeiras. O procurador era do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Foi afastado do cargo quando descoberto seu relacionamento com o publicitário mineiro.

Atitudes como esta, de afastar de órgãos do governo amigos e funcionários com amizades promíscuas devem se repetir, pois muitos de nossos políticos, com a maior cara-de-pau, estão confessando suspeitosas relações. Essa promiscuidade, que precisa ser substituída por amor e respeito à causa pública, tão malcuidada neste País. 

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