Promessa é dívida

A quantidade de assalariados no conjunto de trabalhadores ocupados no Brasil está em queda livre. Em 25 anos, a participação dos assalariados caiu de 64% para 54%, num explícito demonstrativo do baixo índice do crescimento econômico. O número atual de assalariados é de 42 milhões.

O quadro é parte de um estudo do economista Márcio Pochmann, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), um dos maiores conhecedores das relações de trabalho e emprego no País, autor de inúmeros livros sobre o tema e os impactos sobre a vida nacional.

Trabalhando sobre dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pochmann assinala que a marcha do mercado de trabalho sofre uma espécie de refluxo desde 1980. Naquela época, de cada grupo de dez novas ocupações – diz o professor – oito eram assalariados e sete com carteira assinada.

Ao longo do período, a proporção baixou para quatro empregos assalariados em cada dez, dos quais apenas dois são formais. No sentido inverso, as estatísticas mostram que desde então o desemprego quase quadruplicou. Em 1980, 2,8% da População Economicamente Ativa (PEA) não tinha emprego, ao passo que em 2003, quando o IBGE realizou a última medição do gênero, o índice apurado subiu para 9,7%.

Um ângulo importante requer explicações convincentes, tarefa que sociólogos e analistas políticos estão perfeitamente aparelhados para executar, qual seja o onipresente compromisso de campanha dos candidatos à presidência, desde a redemocratização, não ter sido outro senão a geração de empregos.

Os últimos maus exemplos foram dados por FHC (lembram-se da mão espalmada?) e Lula, que prometeu dez milhões de novos postos de trabalho em quatro anos. O novo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, garante criar 100 mil empregos/mês até o final do governo. Mero falar hiperbólico sempre presente no vocabulário de sindicalistas mitingueiros.

Somados os empregos virtuais às ocupações abertas desde 2003, ter-se-ia pouco mais de um terço do número alardeado por Lula. Um retumbante fracasso.

O azar dos políticos é que os números – quase sempre – desmoralizam a fantasia do marketing de campanha. Na hora da explicação, convoca-se o mordomo.

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