O artesanato feito em palha de trigo é uma marca da bela região montanhosa situada no meio-oeste de Santa Catarina. A técnica dessa produção artesanal foi resgatada pelo Projeto Tranças da Terra, nascido da necessidade de encontrar uma atividade que identificasse a região e gerasse renda para comunidades rurais. Lançado no início de 2005, o andamento do projeto demonstra que a iniciativa está transcorrendo em tempo recorde e alcançará os resultados esperados em termos econômicos, sociais e ambientais.
Cento e sete artesãos e agricultores dos municípios de Joaçaba, Catanduvas, Ouro, Luzerna, Água Doce e Capinzal participam do Tranças da Terra. Inserção de design nos produtos, capacitações e prospecção de mercado são as principais ações implementadas até o momento. O projeto também provocou a criação da Associação Tranças da Terra pelos artesãos, ou melhor, artesãs, pois a maioria dos associados é composta por mulheres (99%).
Histórico
A região do meio-oeste catarinense foi considerada a ?capital do trigo? na década de 50. A região montanhosa com baixas temperaturas era ideal para o plantio do cereal e fora colonizada por imigrantes italianos e alemães. O artesanato feito em palha de trigo era uma tradição responsável pela produção de chapéus e ?sportas? (palavra italiana que significa sacolas), usados principalmente nas plantações e nas idas à cidade para compras.
Com a mudança da fronteira agrícola para o Paraná e a mecanização da agricultura, ocorridas no final dos anos 60s, a cultura do trigo na região foi praticamente desativada e o artesanato em palha de trigo se restringiu a poucas comunidades de agricultores, que prosseguiram cultivando o cereal nos moldes tradicionais, sem uso de máquinas.
Em 2004, a Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) realizou pesquisa com o objetivo de resgatar a cultura da região e agregar valor à produção artesanal, visando à geração de renda para artesãos e agricultores. ?Nós estávamos procurando uma alternativa de artesanato de qualidade, que tivesse a identidade da região para oferecer aos turistas?, explica Eliane Filippin, professora de desenvolvimento sustentável da Unoesc. A produção artesanal teria de contemplar os princípios do comércio justo, ou seja, ser includente, socialmente justo e ambientalmente responsável.
Em tempo recorde
A unidade do Sebrae em Santa Catarina está aplicando a metodologia de Gestão Estratégica Orientada para Resultados (Geor) no projeto Tranças da Terra. Até o momento, a técnica artesanal em palha de trigo foi repassada pelas artesãs mais antigas da região para 130 artesãos dos seis municípios integrantes do projeto. Eles foram capacitados em associativismo, gestão, empreendedorismo, entre outros.
Em apenas quatro meses de projeto, 120 artesãos criaram a Associação Tranças da Terra. Dois núcleos de produção foram montados nos municípios de Ouro/Capinzal e Catanduvas/Água Doce e são integrados pelos produtores de matéria-prima. As seis cidades são muito próximas – a distância média entre elas é de 25 quilômetros. A associação já conta com um ponto de venda em Criciúma e um núcleo administrativo está sendo montado em Joaçaba e deverá funcionar como central de vendas e embalagem.
?Nosso desejo é gerar renda para muitas senhoras que precisam e satisfação profissional para outras?, diz Alias Xavier, primeira presidente da Associação Tranças da Terra. ?Temos de fazer o trabalho com perfeição para a gente conseguir vender?, observa. Ela é do núcleo de Capinzal. Ela conta que os cursos do Sebrae estão ajudando muito as artesãs a crescer. ?Somos quase todas donas de casa?, revela a artesã, que já sabia trançar a palha do trigo, pois seu pai fazia chapéus para se proteger do sol nas plantações de trigo. ?Agora estamos fazendo trançado para embelezar as casas?, resume. (Agência Sebrae)