O Brasil possui hoje um número de fumantes acima de 15 anos de cerca de 24 milhões de pessoas. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que usou como base de cálculo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de 2003. Esses dados correspondem a 19% de um universo de 125 milhões de habitantes acima dos 15 anos. Em 1989, quando o Inca lançou o Programa Nacional de Controle do Tabagismo a prevalência de fumantes nessa faixa etária era de 32%. A redução mostra que as ações do programa surtiram efeito, embora o médico do Inca, Ricardo Meireles, acredite também na influência de novos hábitos na sociedade, que passou a rejeitar o fumo, além do papel importante das mudanças introduzidas pela legislação brasileira a partir de 96.
O programa de combate ao tabagismo começou com projetos educativos nas escolas. As secretarias estaduais já eram parceiras na condução dessa estratégia, adotada ainda hoje, que visa à conscientização das crianças para que não sejam seduzidas pelo fumo na adolescência. O tabagismo é considerado doença pediátrica, já que 90% dos fumantes começam a apreciar o cigarro quando ainda adolescentes.
Outra estratégia foi o estímulo à criação de áreas livres de fumo. O Inca adotou a iniciativa no próprio hospital onde se tratam pacientes acometidos pelos mais variados tipos de câncer, ao constatar que havia médicos e enfermeiros que atendiam a clientela fumando. "Criamos fumódromos e as áreas comuns passaram a ser livres de fumo. Essa restrição desestimulou vários profissionais que fumavam e alguns pararam de fumar", revela Meireles.
Além disso, o Inca sempre apoiou iniciativas como o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado em 31 de maio e o Dia Nacional Sem Tabaco, cuja data é 29 de agosto. A partir de 96, a legislação deu um impulso ao programa, ao instituir a proibição de fumar em ambientes fechados; a restringir a propaganda de derivados de tabaco aos postos de venda e proibi-la na TV, no rádio, nos jornais e revistas; e a determinar que a regulamentação dos locais restritos ao fumo passaria para a responsabilidade das vigilâncias sanitárias municipais.
Os maços de cigarro passaram a estampar avisos sobre os riscos do fumo e várias unidades de saúde aderiram à campanha antitabagismo. "Sim, porque ainda havia no começo do programa, hospitais onde se fumava nos corredores. Onde não era proibido fumar, por mais paradoxal que possa parecer", observou Meireles.
O médico admite que acabar com o hábito de fumar não é tarefa fácil e que a doença não vai ser dominada de uma hora para outra. "Até porque existem as recaídas. Podemos tratar um paciente e, daí alguns anos, ele voltar a fumar", lembrou. Mas, a consciência de que o tabagismo é uma doença crônica e contagiosa pode ajudar a combater o mal. O fumo é considerado contagioso porque atinge o fumante passivo, que também tem mais riscos de desenvolver as doenças relacionadas ao tabagismo.
Para Meireles, uma esperança é disseminar entre os ex-fumantes a consciência de que são vencedores, que são pessoas fortes porque largaram o vício. "Pensar assim aumenta a auto-estima e pode ser um remédio contra a recaída".