A médica Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança, terminou de ler na quarta-feira à noite o programa Fome Zero, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, definiu-o da seguinte maneira: ?É uma chuva de idéias. Eu gostei. Falta agora achar o caminho para chegar ao chão, de forma objetiva.? Ela também apontou o que considera as duas principais falhas do programa. Uma delas é ignorar o que já existe de bom na área social e que pode ser continuado pelo novo governo, como os programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, além das ações destinadas à erradicação do trabalho infantil e a prestação continuada de benefícios a idosos acima de 67 anos e pessoas portadoras de deficiências.
A outra falha do Programa Fome Zero, de acordo com a avaliação de Zilda, seria a criação do sistema de cupons, para distribuir recursos públicos à população carente. Na opinião da médica, é um método que complica o acesso aos recursos e, sobretudo, favorece a corrupção. ?Nunca se deve complicar o que pode ser feito de maneira simples?, diz a médica, de 68 anos.
A Pastoral da Criança coordena desde 1983, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um dos mais amplos programas sociais do País, na área de assistência materno-infantil. Em parceria com o Ministério da Saúde, atua em bolsões de miséria, num conjunto de 32 mil comunidades, em 3487 municípios – o que corresponde a 64% do total. Na opinião de sua coordenadora, que no ano passado foi indicada pelo atual governo para concorrer ao Nobel da Paz, o principal segredo do sucesso do programa é a simplicidade.
Ao final da leitura do programa de Lula para o combate à fome, a médica disse ter sentido falta de duas questões que considera importantes. Uma deles é a preocupação para que os recursos sejam entregues nas mãos das mulheres, que, segundo a coordenadora da Pastoral, quase sempre administram melhor o dinheiro da família que os homens.
Principalmente em situações de miséria e com elevada incidência de alcoolismo. Outra falta, seria a referência a escolas de tempo integral. ?Isso ocupa crianças e jovens, garante um melhor preparo para o futuro e propicia alimentação adequada.?