Um programa de ocupação social dirigido aos jovens vem sendo desenvolvido em alguns estados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. Com atividades de cultura, esporte e lazer, a secretaria pretende conscientizá-los sobre a violência urbana.

Em pernambuco, onde o programa está implantado, 445 escolas públicas abrem nos fins de semana, em 14 municípios da região metropolitana, para atividades de cultura, esporte e lazer. No estado, o projeto tem a parceria da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e da Secretaria estadual de Educação.

O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Correa, disse ontem à noite, ao participar do programa Diálogo Brasil, transmitido em rede pública de televisão,
que o trabalho é feito com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública. O modelo está sendo implantado também em Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), na região do entorno de Brasília e na baixada santista (SP). Em breve, será levado a Porto Alegre.

“Trata-se da otimização de programas de diferentes ministérios, onde cada um desenvolve apelo próprio para o conceito de segurança em favor de um trabalho educacional destinado à juventude”, disse o secretário. Participam do projeto os ministérios da Educação, Cultura, Cidades, Esporte e a Casa Civil da Presidência da República.

Para Luiz Fernando Correa, a repressão à juventude não é a forma de acabar com a violência e é preciso mudar no Brasil o conceito da abordagem, de forma a não aumentar a rede de violência com a participação do próprio Estado. Para isso, em sua opinião, é necessário preparar os operadores da segurança pública em todo o país para uma mudança de mentalidade no trato da questão.

O secretário lembrou que atualmente os delitos são praticados por classes socialmente mais altas. Ele acha que os problemas têm a ver com a família e a educação, por isso a repressão não é o melhor remédio.

Para a psicóloga Virgínia Turra, que também participou do Diálogo Brasil, o acirramento de ânimos da juventude, que culmina com a violência, envolve uma cultura própria do mundo atual, com a vida muito corrida, a mentalidade voltada para o individualismo, a necessidade de prazeres rápidos, o paradigma de se saber muita coisa ao mesmo tempo e, por isso tudo, superficialmente.

Segundo Virgínia, há uma transformação na própria característica familiar, com uma nova mentalidade sobre o tempo. Além disso, existe um estereótipo sobre os heróis, que buscam causas próprias. O Rambo, conforme a psicóloga, vai sempre defender alguém depois que sofre uma perda; o homem aranha sai em defesa das pessoas depois que é pessoalmente afetado; tudo isso dentro da mentalidade individualista, na cultura do descartável.

Na opinião do professor Oscar Vilhena, presidente do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud), a violência no Brasil não é praticada em sua maior parte pelo jovem, que, na verdade, é sua maior vítima, conforme se pode ver nas estatísticas. Elas mostram que a maioria das ocorrências é de autoria de maiores de idade. A banalização da violência mostra um desrespeito não só à juventude, mas à sociedade como um todo. Segundo Vilhena, há violência promovida pelo Estado, pela polícia, que é paga para proteger os direitos do cidadão

O professor lembrou o desrespeito ao direito alheio em nossa cultura. Isso vem do ponto mais alto da cadeia de autoridade até o mais baixo, segundo Vilhena. A elite brasileira, para o professor, tem a sensação de que está acima da lei, de que as outras pessoas são inferiores e tudo isso mostra uma crise no estado de direito. Ele lembrou ainda o episódio da morte do índio Pataxó em Brasília. Um dos jovens acusados, ao ser questionado sobre o motivo da ação, respondeu que ?não sabia que se tratava de um índio?, como se isso justificasse o ato que praticou.
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