Profissionalização do produtor de urucum

Um dos desafios da Secretaria da Agricultura é reestruturar a comercialização do urucum no Paraná que, por meio da Emater e de parcerias com a indústria e prefeituras da região noroeste do Estado, espera criar condições para que o produtor desse corante natural tenha um maior lucro a partir desta safra.

O secretário da Agricultura, Newton Pohl Ribas, disse que a iniciativa faz parte das ações do governo do Estado para fortalecer a agricultura familiar local. Segundo ele, o cultivo do urucum é mais uma alternativa de produção, adequada às pequenas propriedades. ?É importante ressaltar que ao optar por essa atividade o agricultor familiar passa a ter mais uma alternativa de renda que, somada a outros segmentos do setor agrícola, garante a diversificação de sua propriedade?.

Nos esforços para incentivar o segmento está o desafio de fazer com que o produtor do Estado possa oferecer às indústrias processadoras de urucum um produto com maior teor de corante.

Segundo a técnica do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, Neusa Gomes de Almeida, o objetivo é dar condições ao produtor para que ele venda à indústria urucum por teor de corante. E não mais por quilo. Ela disse que até hoje quase toda a produção de urucum do Estado foi vendida por quilo. Até a safra passada, o quilo do grão foi comercializado a R$ 0,50. ?A partir da safra atual, pretendemos mudar essa situação. Através da parceira com uma indústria de São Paulo esperamos que o produtor possa negociar sua produção a um preço de US$ 0,17 por percentual de teor do corante, conhecido como bixina. Com isso, os produtores do Paraná vão poder lucrar mais nessa atividade?, afirmou.

Para Neusa Gomes de Almeida, até o momento o produtor de urucum do Estado obteve no máximo 2% de teor do corante. ?O desafio é aumentar para 4% o teor de bixina obtido. Se antes o produtor ganhava R$ 0,50 pelo quilo do urucum, a partir de agora ele vai poder obter em torno de R$ 1,50 pelo quilo do produto. Ou seja, no mínimo vai dobrar o valor pago ao agricultor pelo que ele produziu?, comentou.

Para o lucro desejado ser uma realidade, produtores, setor público e iniciativa privada terão que fazer a sua parte. Os agricultores deverão atender a demanda de uma indústria, que espera uma oferta por escala. ?Por isso, o ideal é que aquele agricultor familiar, que possui uma pequena produção, se associe a outros que também tenham uma pequena oferta para, juntos, oferecerem à indústria a quantidade esperada por ela?, sugeriu a técnica da secretaria.

Visando o melhor desempenho do segmento, os setores público e privado deverão oferecer aos produtores treinamentos, cursos, dias de campo e visitas técnicas que atendam aos interesses de quem produz. ?O agricultor também deverá ter acesso a um Manual do Produtor, referente às práticas de produção, que lhe ofereça todas as informações técnicas necessárias a bom desempenho da atividade. Entre as iniciativas que as parcerias deverão promover, está o treinamento preventivo em Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle?, disse.

Almeida ainda informou que a Secretaria da Agricultura, as indústrias e as prefeituras dos municípios onde há produtores de urucum deverão oferecer sementes de qualidade, ou seja, com teor de corante superior ao até agora alcançado. ?Assim, o agricultor terá todas as condições de oferecer um produto com melhor qualidade. E, conseqüentemente, poderá agregar um maior valor à produção a um menor custo e menor trabalho?, afirmou.

A idéia de reestruturar o agronegócio do urucum no Paraná surgiu durante o 1.º Simpósio ?Complexo Agroindustrial de Plantas Medicinais, Aromáticas, Corantes Naturais e Condimentares?, realizado no Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, em Pinhais, em dezembro do ano passado. O evento fez parte da programação do 1.º Paraná Orgânico, promovido pelo governo do Estado.

Produção

De acordo com levantamento feito pelo IBGE em 2000, o País produziu aproximadamente 10 mil toneladas de grãos de urucum naquele ano. Além do Paraná, o produto é cultivado em Rondônia, Rio Grande do Norte, Pará, Amazonas, Acre, Mato Grosso, São Paulo e Paraíba.

Nos últimos três anos, o Paraná produziu, em média, 1,2 mil toneladas por ano. Dados do Deral apontam que em 2004 a produção de urucum do Estado foi de 1,15 mil toneladas, provenientes de uma área plantada de mil hectares. No mesmo ano, o segmento movimentou R$ 1,7 milhão. ?Esses números comprovam que a atividade do urucum é um bom negócio?, comentou Almeida.

No Paraná, o ranking dos municípios que mais produzem urucum é liderado por Paranacity. Em 2004, o município produziu 600 toneladas do grão. Em seguida, estão Cruzeiro do Sul, Terra Rica, Loanda e Santa Cruz de Monte Castelo.

Associação para defesa de interesses

Na última quarta-feira (24), em Paranacity, foi realizado o 2.º Encontro Regional da Cultura do Urucum. O evento, promovido pela Secretaria de Agricultura do município, propiciou aos participantes debater questões relacionadas ao mercado do grão, sua comercialização, as parcerias entre a indústria e o setor público, como também obter informações técnicas voltadas ao melhor desempenho do segmento.

Foi oficializada também a criação de uma associação de empresários ligados ao agronegócio do urucum. Para o produtor Waldemar Naves Coco Jr., na atividade há sete anos, o segmento precisa estar melhor organizado para garantir um maior espaço no mercado. ?Com a associação, vamos ter um laboratório. Assim, vamos poder fazer as análises de sementes e tudo o que é preciso para avançar no setor?, disse.

Com uma produção média de 20 toneladas por ano, o produtor de Paranacity defendeu a melhoria das variedades de urucum. ?Há algumas que se dão bem em outros estados e não aqui. Então, precisamos buscar variedades que sejam bem-sucedidas no Paraná. Mas tudo isso com acompanhamento técnico?, comentou.

Há 15 anos no negócio, o agricultor Jair May produz 12 toneladas de urucum por ano. Para ele, a organização deles impedirá que a categoria seja explorada. ?Acho importante a gente se organizar melhor. Nesse ramo, há muitos atravessadores. Nem sabemos para onde vai o urucum que produzimos. Com a associação, a gente vai poder acompanhar o destino de nossa produção?, concluiu.

Durante o encontro, também foi discutida a possibilidade de instalação de uma unidade agroindustrial, em Paranacity. A estrutura possibilitará a qualificação do urucum através da utilização de um equipamento conhecido como espectrofotômetro.

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