Profeta do óbvio

A legalização do aborto foi a alternativa cravada pelo governador Sérgio Cabral Filho, do Rio de Janeiro, como forma de conter a violência em alguns pontos do território fluminense, especialmente nas favelas da cidade que já foi cantada em prosa e verso como maravilhosa.

Cabral asseverou, respaldado numa tese levantada pelos autores do livro Freakonomics (Steven Levitt e Stephen J. Dubner) que a taxa de fertilidade das mães moradoras em favelas acabam virando ?fábricas de produzir marginal?. A socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Cidadania da Universidade Cândido Mendes, lamentou a fala do governador enfatizando que a tese é abominada pela maioria dos criminólogos modernos.

Repetindo a cantilena que o Brasil se dividiu em duas porções distintas, uma parecida com a Suécia, por sua opulência, e a outra que se assemelha à miséria de alguns países africanos, o governador procurou atenuar a extrema frieza de sua peculiar análise ao dizer que o aborto, como política pública, será um contributo para a diminuição da violência.

Ninguém ignora as precárias condições de grande parte das famílias constrangidas a viver em favelas, tanto no Rio de Janeiro quanto em outras cidades do País. Assim como não há novidade na constatação do geométrico crescimento do chamado contingente da exclusão social, sem que as providências devidas fossem tomadas pelo aparelho de Estado.

Não será com uma tese de pronta entrega que o governador Sérgio Cabral Filho conseguirá diminuir a violência no Rio. Essa problemática angustiante requer mais que o discurso empolado dos profetas do óbvio.

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