O Brasil ocupa, em vários setores, lugares de destaque nos “rankings” internacionais. Muitas dessas estatísticas se referem a falhas e não a sucessos.
Somos, por exemplo, um dos países de maior nível de criminalidade do mundo. Também figuramos com destaque na lista dos infratores dos direitos humanos, praticantes de torturas e outros títulos negativos. Nem tudo de mau em que se destaca o Brasil é chancelado por políticas oficiais. Pelo contrário, os nossos governos combatem a criminalidade, se bem que com destacada incompetência. Somos favoráveis à preservação e defesa dos direitos humanos, embora não as pratiquemos com afinco. A tortura tem legislação que a define e pune, mas quem mais a pratica são autoridades a quem caberia o cumprimento das normas legais.
Agora, surge um outro “ranking”, mostrando que o professor brasileiro de ensino de primeiro grau é um dos que mais sofre com os baixos salários. Estamos em terceiro lugar. Só ganham menos que os nossos professores os do Peru e da Indonésia. Esse vergonhoso posicionamento foi verificado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e divulgado em Genebra, na Suíça. Um professor brasileiro em início de carreira, segundo a pesquisa, recebe em média menos de US$ 5 mil por ano para dar aulas. Leve-se em conta que é um número em dólares com cotação normal, pois se considerarmos a moeda norte-americana sob surto especulativo, como agora, esse ganho do professor brasileiro será muitíssimo menor. Considere-se, ainda, que a pesquisa levou em conta tanto o que ganham os professores da rede pública, quanto os da privada, sabendo-se que as escolas particulares pagam melhor.
Para melhor avaliação, é bom que se compare o ganho dos nossos mestres com o de seus colegas de outros países. Na Alemanha, um professor com a mesma experiência do brasileiro ganha, em média, US$ 30 mil por ano. São seis vezes o ganho dos nossos professores. No topo da carreira, um professor brasileiro chega a uns US$ 10 mil por ano. Em Portugal, o salário anual é cinco vezes maior, US$ 50 mil, o mesmo que ganham os professores suíços. Na Coréia, os professores primários ganham seis vezes o que ganha um brasileiro.
Com esses ínfimos salários, poucos jovens querem seguir a carreira do magistério. E os que a seguem são verdadeiros heróis, pois trabalham muito, já que a OIT e a Unesco mostram que o Brasil é um dos países com maior número de alunos por classe; ganham pouco e, de vez em quando, enfrentam a polícia, balas de borracha e patas de cavalos, isso depois de muitos chás-de-banco nos gabinetes oficiais, em seus pleitos reivindicatórios. Parece que se trata de uma política oficial, porque tal realidade ocorre em todo o País e, muito embora não existam leis que mandem perseguir essa valorosa classe, certamente existe uma questão cultural: o entendimento de que a profissão de professor é impagável, de sacrifício, e que lhe bastam as palavras de aplauso nos discursos dos políticos e o sincero respeito da sociedade.
Não bastam, nem para os professores, nem para a sociedade brasileira. Eles merecem ganhar melhor e ter melhores condições de vida e trabalho porque o País deles muito necessita. Não se há de imaginar que o Brasil irá para a frente sem uma boa, eficiente e bem paga estrutura de ensino.