O Primeiro Levantamento de Intenção de Plantio da safra 2005/2006, divulgado na quinta-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indica que haverá queda da área plantada e aumento da produção no próximo ano agrícola. O chefe do Departamento Econômico (Decon) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco, alerta, entretanto, que os números induzem a uma análise não isenta.
?Na verdade, os produtores terão prejuízo?, afirma Pernambuco. Ele explica que não é correto projetar crescimento da produção quando se faz comparação apenas com os números da safra passada, que foi atípica, com incidência de excesso de chuvas em algumas regiões e estiagem em outras, além da presença da ferrugem asiática sobre as lavouras de soja. No ano agrícola passado, o Brasil amargou queda de safra de 20 milhões de toneladas, com prejuízos que somaram R$ 16 bilhões na renda dos produtores rurais.
?O correto seria utilizar os índices de produtividade médios dos últimos cinco anos, desconsiderando limites superiores e inferiores, ou seja, excluindo produções muito elevadas ou muito baixas?, explica. Nessa comparação, portanto, não deveriam ser levados em consideração os dados da última safra, que teve fortes perdas.
Segundo Pernambuco, comparar a safra 05/06 com a safra passada contraria as regras estatísticas, criando um viés, ou seja, deixa-se de utilizar os dados de um ano padrão de produção para usar números de um ano atípico, com resultados superestimados. Se forem consideradas as produtividades das cinco safras anteriores, como calculou a CNA, o prejuízo dos produtores das cinco principais culturas (algodão, arroz, milho, soja e trigo) é de R$ 4,12 bilhões. ?Esse é o valor que deixa de girar na economia devido à crise agrícola?, diz.
Segundo explica Pernambuco, o mais adequado seria considerar a redução de área, que de 48,8 milhões de hectares da safra passada, ficaram na faixa entre 46 milhões e 47,2 milhões de hectares. ?Nos últimos oito anos sempre tivemos agregação de área plantada. Esta será a primeira safra, depois desse longo período, que vamos reduzir área cultivada?, ressalta Pernambuco. ?Esses são números que mostram o quanto a agricultura não está bem?, afirma.
Para dimensionar o prejuízo, Pernambuco considerou a redução de área plantada que consta no 1.º Levantamento de Safra divulgado na quinta-feira pela Conab, e multiplicou a queda de área cultivada pela produtividade média dos cinco anos anteriores à safra passada. No caso do algodão, por exemplo, é estimada pela Conab uma redução de 336,9 mil hectares de área plantada, número que, multiplicado pela produtividade média de 3.086 hectares das cinco safras anteriores à safra passada, representa uma retração de produção de 1 milhão de toneladas. Em valores atuais de negociação do algodão, essa redução de colheita de um milhão de toneladas representa perda de R$ 1,049 bilhão para os cotonicultores em relação aos anos normais de plantio.
