Para garantir recursos suficientes para pagar as dívidas, depois de enfrentarem sérios problemas na última safra, os produtores rurais, principalmente de soja, retomam uma prática que tinham abandonado no período em que o preço do produto estava em alta: a venda da produção para as indústrias antes mesmo da conclusão do plantio. Na prática, os produtores fecham os contratos, conseguem crédito com taxas inferiores às dos bancos e apenas depois plantam as lavouras.
No caso da soja, os produtores não praticavam a venda antecipada desde 2004. Naquela época, muitos romperam os contratos assinados com as indústrias para vender a soja a valores superiores aos acertados previamente. Dois anos depois e com muitas dívidas ainda a serem pagas, a prática volta a ser uma realidade, especialmente no Centro-Oeste. Estimativas da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) mostram que cerca de 35% da safra 2006/07 do Estado já está comprometida. Isso significa que, dos 14,9 milhões de toneladas estimadas pela Conab para Mato Grosso, 5,2 milhões já teriam sido vendidas.
Mas há quem diga que essa estimativa seja conservadora. Algumas empresas esmagadoras se arriscam a dizer que pelo menos metade da produção do Estado já esteja comprometida com as indústrias. "Essa é uma prática responsável dos produtores", afirma Rui Prado, presidente da Aprosoja.
Com a volta dos produtores, as indústrias também aproveitam para receber pelo menos parte das dívidas ainda não pagas. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, as indústrias, de fato, estão usando parte da soja que está sendo plantada como moeda para pagamento de débitos passados.
Mas o que faz as empresas esquecerem os problemas que tiveram com os produtores de soja no passado é a necessidade de garantir o abastecimento no ano que vem. Com a redução da área plantada, a tendência natural é que a disponibilidade do grão fique mais restrita. Além disso, muitas usinas de biodiesel, entre elas as construídas pelos próprios produtores, devem entrar em funcionamento já em 2007, o que aumentaria a concorrência pelo grão. "A cada ano que passa comprar soja está mais difícil. As grandes empresas têm a vantagem de poder pagar um pouco mais e, para as pequenas, resta buscar alternativas", afirma o executivo de uma indústria de médio porte.