Como contraponto à entrada das sementes piratas e ao crescimento do uso de sementes próprias, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Soja, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está estimulando as empresas produtoras de sementes de soja a aprimorar seus padrões de testes de qualidade a fim de garantir um diferencial para seus produtos no mercado.
"Existem atualmente cerca de 10 testes de qualidade que permitem avaliar precisamente os potenciais de germinação e vigor (força da planta após a germinação) de uma semente de soja. Sua aplicação permite selecionar lotes de altíssima qualidade, o que proporciona maior competitividade à empresa" observa José de Barros França Neto, pesquisador da Embrapa Soja que coordenou o 1º Curso de Vigor de Sementes de Soja para 30 participantes brasileiros e estrangeiros, na semana de 17 a 21 de julho, em Londrina, PR.
No Brasil, as empresas que estão mais avançadas usam três desses testes: de germinação, tetrazólio e envelhecimento acelerado. Segundo França Neto, os novos testes vão permitir refinar o conceito de controle de qualidade de sementes. "Ainda assim, muitas vezes esses testes não são conduzidos de forma adequada e podem ser aperfeiçoados", revela.
"Esse ainda é um campo pouco explorado pelas empresas de sementes. A Embrapa está trazendo o desafio de incluir novos testes no controle de qualidade das sementes. Vamos poder agregar ainda mais valor aos nossos produtos", avalia Elisa Sigaki Ito, analista de semente da Cooperativa Integrada.
A agrônoma Deneb Vidal, do Instituto Nacional de Sementes de Soja, órgão Uruguaio, também veio conferir as novidades. "É uma área que vem crescendo significativamente em nosso país. Queremos uma semente de soja de alta qualidade e com valor agregado", explica.
Entre os testes com potencial de aplicação pelas empresas estão os de deterioração controlada (que permite avaliar o potencial de armazenamento da semente com mínimo de perda de qualidade), condutividade elétrica, testes de frio e de germinação a baixas temperaturas. "O padrão mínimo de qualidade todo mundo segue. Ganha em competitividade quem garantir mais. Esses testes permitem avaliar com precisão a qualidade dos lotes e estabelecer as diferenças de qualidade entre eles", detalha o pesquisador.
Produção de semente envolve tecnologia e alto padrão de qualidade
A diferença entre plantar uma semente de alta qualidade e um grão produzido na propriedade é grande. Hoje, a semente responde por apenas 5% do custo de implantação de uma lavoura. "É um investimento que vale a pena porque a semente é a base de toda a lavoura", explica Francisco Kryzanowski, pesquisador da Embrapa Soja. Os testes de qualidade apontados pela Embrapa são uma das pontas de um processo complexo, que resulta na produção de uma semente de soja.
A diferença começa no campo, já na escolha da área a ser cultivada e segue até o ponto de colheita e armazenamento. As áreas indicadas para produção de sementes ficam em locais onde a temperatura média é de 22º C, condição que, no Brasil Central, por exemplo, só é alcançada em platôs com mais de 750 metros de altitude. "Essa delimitação ocorre porque traduz as condições climáticas ideais para um processo de lento de maturação da planta. Isso faz com que a semente mantenha a qualidade por um período maior", explica o pesquisador. O controle dos níveis de percevejo também é mais rigoroso e a colheita é feita com um teor de umidade maior.