Mais de 300 produtores de fumo estiveram reunidos nesta quarta-feira (13) em Irati, no auditório da Unicentro, para discutir aspectos econômicos, sociais e ambientais da atividade a partir dos debates levantados pela ?Convenção-Quadro? realizada em Genebra em 1999. O encontro em Genebra marcou o início de um movimento mundial antitabagista, levando os países produtores a posicionar-se sobre a ratificação da Convenção. No Brasil, tramita no Senado Federal o Projeto de Decreto Legislativo PDS 602/2004 pela ratificação da Convenção-Quadro, porém produtores de fumo de todo o país temem que sua aprovação, sem um amplo debate com o segmento, cause um colapso econômico para milhares de brasileiros.
Segundo o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Hainsi Gralow, o setor aguarda com apreensão alternativas para a reconversão da cultura do fumo, que, segundo ele, gera 2,4 milhões de empregos e movimentou mais de R$ 13 bilhões em 2003. ?A questão agrava-se quando entendemos que as indústrias até podem transferir seu capital para outros países, mas nossos produtores perderão a renda?, destaca.
Para o vice-governador e secretário da Agricultura e do Abastecimento, Orlando Pessuti, a diversificação da produção nas pequenas propriedades é mais importante, no momento, do que a reconversão para outra cultura. Destacou o trabalho do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Cedraf) na criação de cinco territórios no Paraná, inclusive o do Centro Sul.
Segundo Pessuti, o conceito de território permite que sejam criados programas especiais para as regiões que tenham características em comum, independente dos limites geográficos. Assim, a reconversão da cultura do fumo tem apoio do governador Roberto Requião para programas já em funcionamento como o de Biodiesel, que conta também com a participação da Petrobrás na utilização da Usina de São Mateus do Sul, ou do Leite das Crianças, que distribui 162 mil litros de leite por dia, gerando renda para o pequeno produtor e melhoria da qualidade alimentar na infância.
Pessuti motivou os produtores a debater em profundidade as alternativas possíveis, oferecendo o apoio da equipe técnica da Secretaria da Agricultura e suas vinculadas Emater, Iapar, Ceasa e Codapar.
O secretário nacional da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Walter Bianchini, destacou que a Convenção-Quadro marcou uma série de manifestações mundiais quanto ao consumo do tabaco, e não à produção do fumo. Segundo ele, se a Convenção for ratificada pelo Brasil, prevê-se que haja um tempo razoável para a adaptação do setor produtivo do fumo a outras culturas, além de campanhas dirigidas à população para restringir o consumo. ?É nesse sentido que a agricultura familiar deve estar preparada para a diversificação de suas lavouras. As linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) serão essenciais no processo?, afirmou. ?A região de Irati já recebeu mais de R$ 50 milhões em investimentos, mas as aplicações podem crescer diante da potencialidade que o Território apresenta?, completou.
O fumo, originário da América do Sul, é cultivado atualmente em 103 países, atingindo uma produção anual de 6.600 mil toneladas, segundo dados da FAO e IBGE. A China é o maior produtor, com 2.405 mil toneladas, e o Brasil detém o segundo lugar, com uma produção de 850 mil toneladas. No Paraná são ocupados 74 mil hectares com o cultivo de fumo, o que representa 17 por cento da produção nacional, com produção de 146 mil toneladas e renda bruta de R$ 625 milhões. É uma atividade típica de pequenas propriedades, e o Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento de Irati é o maior produtor paranaense.