Rio
– (das agências) – A produção industrial brasileira voltou a cair em abril, golpeada pelas altas taxas de juros que pesaram ainda mais sobre os segmentos voltados para o mercado doméstico e anularam os efeitos positivos das exportações. A produção da indústria recuou 0,1% em relação a março e despencou 4,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Foi a segunda queda consecutiva na comparação com o mês anterior – em março, a produção industrial havia caído 3,3% em relação a fevereiro. Na comparação anual, a queda de abril foi a primeira taxa negativa desde junho de 2002.
Segundo o instituto, os setores predominantemente exportadores, ligados à agricultura e à indústria do petróleo cresceram, mas não o suficiente para sustentar toda a indústria como vinha ocorrendo nos últimos meses.
“Agora é como se as exportações, a agroindústria e o petróleo não tivessem ímpeto suficiente para neutralizar as reduções mais concentradas no mercado interno”, disse Silvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.
Os setores siderúrgico, de celulose e de petróleo, por exemplo, cresceram em abril 8,8%, 25% e 3,2%, respectivamente, comparado ao mesmo mês de 2002. Mas bens de consumo semiduráveis e não duráveis como vestuário e calçados, destinados ao mercado interno, amargaram sua maior queda desde agosto de 1992 – 10,6%.
Os bens de consumo duráveis, como automóveis, tiveram uma queda ainda mais aguda, de 13,6%.
As taxas de juros estão estacionadas em 26,5%, seu maior patamar em quatro anos, por causa das preocupações com a inflação que vem cedendo aquém do desejado pelo governo. Com isso, a atividade econômica praticamente parou nos primeiros meses do ano.
O resultado da indústria de abril surpreendeu alguns economistas, que apostam que os dados servirão para aumentar os já insistentes pedidos pela redução dos juros.
Efeito calendário
O IBGE ponderou que a taxa de abril foi influenciada pelo menor número de dias úteis no mês em 2003 por causa do feriado de Semana Santa, que no ano passado caiu em março. Além disso, o instituto notou que a base de comparação é alta – a produção industrial atingiu em abril de 2002 um dos maiores níveis de sua série histórica. Naquele mês, a produção havia crescido 6,2%.
Ainda assim, Sales disse que os juros altos, mais a contínua queda da renda dos trabalhadores e a escassez de crédito, ajudam a explicar a performance negativa da indústria.
Com o desempenho de abril, a produção industrial acumula no primeiro quadrimestre do ano um crescimento de apenas 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos 12 meses, a alta observada é de 2,5%.